quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

sábado, 22 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

Porque Estamos no Natal

Porque estamos no Natal e a mensagem é de PAZ...

As minhas filhas deixam esta mensagem a quem nos lê.

Feliz Natal, um Ano Novo Feliz.

Mecanisnos de Defesa II


Identificação – É o processo psíquico pelo qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de outro, e se transforma, total ou parcialmente, apresentando-se conforme o modelo desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações. Através do processo de identificação, o indivíduo defende-se contra a ansiedade, devido a algum sentimento de inadequação, assumindo inconscientemente os atributos desejáveis encontrados em pessoas que se tem admiração.
Regressão – o indivíduo retorna a etapas anteriores do seu desenvolvimento, é uma passagem para modos de expressão mais primitivos. Taylor (1992, p.154) explica a regressão como, “ o indivíduo depara-se com uma ansiedade que deriva de um conflito ou problemas que não podem ser solucionados pelos mecanismos de defesa adaptativos com os quais geralmente soluciona os problemas”. A regressão designa a passagem a modos de expressão e de comportamento de nível inferior, do ponto de vista da complexidade, da estruturação e da diferenciação.
Isolamento – É um processo psíquico típico da neurose obsessiva, que consiste em isolar um comportamento ou um pensamento de tal maneira que as suas ligações com os outros pensamentos, ou com o autoconhecimento, ficam absolutamente interrompidas, já que foram completamente excluídos do consciente. Está patente em indivíduos que falam sobre situações traumáticas sem qualquer tipo de sentimento.
Formação reactiva – O ego procura afastar o desejo que vai em determinada direcção, e, para isto, o indivíduo adopta uma atitude oposta a este desejo. Taylor exemplifica-nos (1992, p.152), “ As pessoas extremamente amistosas, abertamente polidas e correctas socialmente, (…), têm sentimentos inconscientes de raiva e ódio para com muitas pessoas”.
Substituição – Processo pelo qual um objecto é valorizado emocionalmente, mas que não pode ser possuído, é inconscientemente substituído por outro, que geralmente se assemelha ao proibido. É uma forma de deslocamento.
Fantasia – É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação na sua mente, que satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito.
Compensação – É o processo psíquico em que o indivíduo se compensa por alguma deficiência, pela imagem que tem de si próprio, por meio de um outro aspecto que o caracterize, saindo assim valorizado e possa ser aceite socialmente.
Expiação – É o processo psíquico em que o indivíduo quer pagar pelo seu erro imediatamente.
Negação – Mecanismo de defesa pelo qual se dá como inexistente, um impulso instintivo ou aspecto do “eu”, ou, ainda, uma experiência penosa. Normalmente empregada para defender-se do sistema contra a tensão do aparecimento súbito de uma tensão. (Taylor, 1992)
Introjecção – Este mecanismo de defesa está intimamente ligado com a identificação. Uma vez que tende a substituir parte ou toda a personalidade.
Anulação – Segundo Neeb (2000, p.108) este mecanismo, “tende a fazer correcções num comportamento que se pensa inaceitável. Faz uma tentativa de reduzir a culpa”. O comportamento de anulação é por vezes altamente repetitivo, uma vez que, o indivíduo não consegue atingir o seu objectivo de cessar com os sentimentos que lhe provocam ansiedade.
Conversão – Este mecanismo de defesa refere-se à expressão de conflitos emocionais através de um sintoma físico, para o qual não existe uma base orgânica demonstrável. Este mecanismo opera inconscientemente.

sábado, 8 de dezembro de 2007

MECANISMOS DE DEFESA I


A tensão é sem dúvida necessária à vida. A tensão é definida por muitos como a reacção que se tem aquando se perturba alguma normalidade. Taylor (1992, p. 117) define tensão com, “ uma condição na qual o sistema humano responde ao “input” que perturbou o seu estado estável”. O que é pretendido é que, o ser humano se adapte a estas situações de tensão e seja capaz de responder adequadamente. A tensão não é considerada positiva nem negativa, embora os seus efeitos possam isso sim ser positivos ou negativos. È então necessário que o ser humano se adapte de forma holística ao momento de tensão. Estas adaptações psíquicas quando são feitas de forma involuntária ou inconsciente assumem-se como mecanismos de defesa.
Mecanismos de defesa são, então, processos psíquicos que têm por finalidade, reduzir qualquer manifestação que pode colocar em perigo a integridade do indivíduo, ou seja, inconscientemente, procura proteger-se de situações que o podem ameaçar. Por norma o ser humano adapta-se. Neeb (2000;p.105) entende que, “ a finalidade dos mecanismos de defesa é reduzir ou eliminar a ansiedade”. No entanto, há que referir que estes mecanismos de defesa, apesar de serem como válvulas de escape da ansiedade, muitas vezes provocadas por momentos de tensão, apesar de parecerem estarem a ajudar, podem essencialmente mascarar o stress e podem mesmo servir para o aumentar.
Existem vários tipos de mecanismos de defesa, sendo que alguns são mais eficientes do que outros. Há os que exigem menos dispêndio de energia para funcionar, outros são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia psíquica.
Os mecanismos de defesa, podem dividir-se em dois grandes grupos:
1. Mecanismos de defesa maduros – Mecanismos de defesa bem sucedidos, geram a cessação daquilo que se rejeita;
2. Mecanismos de defesa imaturos – Mecanismos de defesa ineficazes, que exigem repetição ou perturbação do processo de rejeição.
Os Mecanismos de defesa são:
Sublimação – É o mecanismo de defesa mais eficaz, na medida que canaliza os impulsos libidinosos para uma postura socialmente útil e aceitável. Impulsos instintivos sexuais e agressivos são descarregados para objectos não sexuais ou agressivos, de tal forma que se tornam socialmente aceitáveis. Taylor (1992, p. 152) descreve que a sublimação, “ é uma das adaptações mais positivas à ansiedade e parcialmente responsável por grande parte das manifestações artísticas e culturais das pessoas civilizadas”.
Repressão – É a operação psíquica que pretende fazer desaparecer, da consciência, impulsos ameaçadores, sentimentos, desejos, ou seja, conteúdos desagradáveis ou inoportunos. Este mecanismo de defesa é amplamente usado e completamente inconsciente. É uma operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno, como por exemplo uma ideia, um afecto, um pensamento hostil. Estes conteúdos desagradáveis são então reprimidos.
Racionalização – é um mecanismo quase universalmente utilizado. É uma forma de substituir por boas razões uma determinada conduta que exija explicações, de um modo geral, da parte de quem a adopta. Taylor (1992, p. 153) caracteriza racionalização como, “ uma tentativa de fazer com que o próprio comportamento pareça ser o resultado do pensamento lógico, em vez de resultar de desejos ou anseios inconscientes que produzem ansiedade”. É um processo pelo qual o sujeito procura apresentar uma explicação coerente do ponto de vista lógico, ou aceitável do ponto de vista moral, para uma atitude, uma acção, uma ideia, um sentimento, cujos motivos verdadeiros não percebe; fala-se mais especialmente da racionalização de um sintoma, de uma compulsão defensiva, de uma formação reactiva. O indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica os estados "deformados" da consciência. Na racionalização, o ego coloca a razão a serviço do irracional e utiliza para isto o material fornecido pela cultura, ou mesmo pelo saber científico.
Projecção – é uma confluência de distorções do mundo externo e interno. O indivíduo localiza (projecta) algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi projectado como algo seu que considera indesejável.
Deslocamento ou Transferência – É um processo psíquico através do qual o todo é representado por uma parte ou vice-versa. Também pode ser uma ideia representada por uma outra, que, emocionalmente, esteja associada à dela. Esse mecanismo não tem qualquer compromisso com a lógica. É o caso de alguém que tendo tido uma experiência desagradável, por exemplo, com um enfermeiro, reaja muito mal com todos os enfermeiros.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Este Foi o Inicio...

CARTA DE MOTIVAÇÃO PARA CONCURSO NA P.G.S.M.


A área da Saúde Mental (SM) é talvez a mais complexa no âmbito da profissão de Enfermagem, porque é a que mais depende de todo um processo de comunicação. É sem dúvida importante em toda a acção de enfermagem, mas na SM é o instrumento de intervenção por excelência. Assim, toda a abordagem nesta área é construída a partir do processo de interacção, esperando-se que os profissionais sejam capazes, de estabelecer relações terapêuticas com os utentes.
A SM é transversal às outras áreas de actuação em Enfermagem. Está presente em todo o processo da relação de ajuda. É fundamental aprender a integrar e mobilizar conhecimentos, para melhorar a qualidade dos cuidados na assistência às pessoas com perturbações emocionais.
Quantas vezes durante o meu percurso profissional e pessoal, confrontei-me com pessoas que sofriam de desequilíbrios emocionais, como consequência dum processo de doença, ou simplesmente porque a sua fragilidade não lhes permitiu lidar adequadamente com os factores stressores a que todos nós estamos sujeitos. A minha actuação nestas interacções é essencialmente orientada pelo “bom senso”, esforçando-me contudo para me colocar no papel dessa pessoa. Por vezes obtenho resultados positivos e gratifico-me por sentir que atenuei o sofrimento das mesmas, mas outras vezes sinto alguma frustração, pois gostaria de as compreender melhor para melhor as ajudar. Noto contudo, alguma dificuldade em interagir com pessoas com alguns comportamentos desviantes daquilo que é considerado a normalidade. Estas situações colocam-me algumas questões e aguçam-me a minha curiosidade sobre o que é normal ou não, já que a doença mental sempre foi vista como um desvio em relação a um padrão de comportamento pré estabelecido, pela sociedade em geral. O que me interroga é sobre o que faz um indivíduo apresentar estas alterações e que tipo de abordagem deve ser feita.
Esta área sempre me aliciou desde o início da minha vida profissional e chegou o momento de investir na construção de um novo projecto profissional. Por isso, pretendo, com a frequência da Pós Graduação (PG) na área da SM na Adição e na Reabilitação Psicossocial, além de poder obter respostas a estas minhas interrogações, adquirir competências para um desempenho adequado na minha interacção com este tipo de pessoas, ajudando-os a enfrentar estes momentos de crise.
A minha escolha do Elenco A, deve-se ao facto de pretender continuar a desempenhar funções na área do adulto, e de ser a área que mais se enquadra, com o tipo de problemáticas com que mais me irei deparar no meu futuro serviço, já que aguardo transferência para o Serviço de Psiquiatria.
Ao analisar a minha experiência profissional, sinto algumas lacunas de formação na área da PG a que concorro, apesar do meu percurso apresentar pontes de ligação ás unidades curriculares propostas.
Colaboro com uma Escola de Enfermagem, onde lecciono sobre o papel do enfermeiro no apoio ao casal infértil/Infertilidade. Apesar destas aulas estarem inseridas noutra área de actuação de Enfermagem, é maioritariamente na SM Comunitária e Familiar que devem ser posicionadas. Nestas aulas, utilizo as Narrativas de Vida como método formativo, exemplificando com uma história de vida, qual deve ser o posicionamento do enfermeiro. Pretendo que os estudantes possam reflectir, criando uma relação de parceria com o casal, apoiando-o. Publiquei, um artigo a descrever esta minha experiência, fazendo uma abordagem formativa e terapêutica das Histórias de Vida.
Sou responsável da formação em Serviço e foi sempre minha preocupação, incluir formação numa área mais relacional, onde a relação de ajuda é primordial. Foram criados, momentos de discussão e reflexão das experiências profissionais de cada elemento. Foi iniciado, um curso sobre dinâmicas de grupo, com o objectivo de toda a equipa se conhecer melhor, poderem fortalecer elos de ligação entre os elementos. Está também a decorrer, uma formação sobre técnicas de Sofrologia, para atenuar o stresse e promover o auto conhecimento Senti que estas abordagens foram muito positivas, houve uma consciencialização das relações entre os elementos da equipa e uma preocupação em as fortalecer. Desejo então aprofundar mais sobre esta temática, dado que, por vezes, uma pessoa estranha ao nosso contexto, pode ajudar-nos a conhecermo-nos melhor e mostrar o nosso posicionamento no grupo.
Esta é a minha experiência e os meus interesses a nível profissional no domínio da Enfermagem de SM. A frequência da PG, pode ser útil para desenvolver competências no sentido de deixar de usar o “bom senso” e passar a actuar de uma forma correcta, cientifica, de maneira a que ao fazê-lo, não agrave as situações em que a SM esteja afectada e possa decisivamente ajudar na reabilitação psíquica e social dos utentes que me estão confiados. Além de responder a alguma da minha inquietude, uma vez que me vai ajudar, a conhecer melhor os outros e consequentemente a mim mesmo, possa também, sentir-me realizado por ajudar convenientemente o outro.
Fui aluno da Escola Superior de Saúde de Setúbal (ESS), tendo frequentado o Curso de Complemento em Enfermagem. Senti uma enorme motivação durante a minha formação nesta escola. Contribuiu decisivamente, para o desenvolvimento das minhas competências profissionais, para uma visão algo diferente da Enfermagem e para um crescimento pessoal. Frequentar a ESS permitiu-me adquirir, muitos subsídios, para o meu desempenho. O conhecimento da Escola, da sua filosofia de ensino, assim como do seu elenco Docente, é uma mais valia para o meu concurso a esta PG.
Quero também destacar que os conteúdos programáticos da PG a que concorro influenciaram decisivamente o facto de querer continuar a minha formação profissional nesta instituição.
Por tudo o foi descrito, estou motivado para a frequência da PG em SM opção Adição e Reabilitação Psicossocial.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Diz que até não é um mau blog


Depois de algum tempo a tentar conseguir exibir orgulhosamente este sinbolo enviado pelo doutor enfermeiro e de analfabeticamente (informaticamente falando) não conseguir fazer links, aparece outra nomeação do blog Neuro_enfermeiro. Sinto-me então na obrigação de tambem eu exprimir a minha votação.
Agora as regras do jogo:
1. Este prémio deve ser atribuído aos blogs que considerem serem bons, entende-se como bom os blogs que costuma visitar regularmente e onde deixa comentários.2. Só e somente se recebeu o “Diz que até não é um mau blog”, deve escrever um post:- Indicando a pessoa que lhe deu o prémio com um link para o respectivo blog;- A tag do prémio;- As regras;- E a indicação de outros 7 blogs para receberem o prémio.3. Deve exibir orgulhosamente a tag do prémio no seu blog, de preferência com um link para o post em que fala dele.4. (Opcional) Se quiser fazer publicidade ao blogger que teve a ideia de inventar este prémio, ou seja – Skynet - pode fazê-lo no post).

Assim sendo existem alguns blogs que o Psikiatrices consulta quase religiosamente:
Existem outros tantos (que tambem mereciam a votação), que tambem visito mas não são de enfermagem ou de enfermeiros e esse foi o meu critério.
Obrigado a todos os que nestes 4 meses de pensamentos, artigos e comentários me acompanharam. Isto de ter um blog é como ter um outro filho, é presciso, alimentar, acarinhar, enfim, cuidar.

Construção de Si, Cuidado e Compaixão


Muitas vezes ouvimos a expressão “ a felicidade não existe, o que existe são momentos de felicidade”. Para podermos opinar sobre esta expressão, parece-me obvio que é necessário pensarmos o que é felicidade. Felicidade pode ser definida como um estado de alegria, sem sentimento de culpa, Russel indica que felicidade é o objectivo de todo o ser humano. No entanto, o viver o dia a dia feliz é decisão de cada um de nós, cabendo aos outros poder influenciar, mas não decidir como é a nossa felicidade. Se considerarmos que a felicidade está intimamente e exclusivamente ligada ao prazer, então a frase faz todo o sentido uma vez que o prazer é efémero. O casamento, o nascimento de um filho, um momento de prazer sexual, são todos momentos repletos de prazer, no entanto efémeros. Por aqui, nunca poderíamos dizer que alguém atingiu a felicidade. Logo, se reportarmos a expressão para um domínio social, financeiro, da relação com os amigos ou mesmo na relação familiar, parece-me que a expressão pode ser considerada verdadeira.
Se reportarmos a expressão, para um domínio individual, da constante busca da felicidade, de dar valor aos aspectos mais ínfimos da nossa existência, numa constante simplicidade voluntária, dando valor a coisas do domínio do ser, diminuindo o valor do domínio do ter, então aí a felicidade já pode assumir um carácter permanente, logo já poderemos dizer que a frase não faz sentido. A felicidade está no nosso bem-estar, de como estamos bem física e mentalmente, de como não temos conflitos com os outros e sabemos perfeitamente quem somos e para onde caminhamos. Assume aqui a felicidade um domínio mais profundo de uma construção interior.
A nossa vida é cada um de nós que a constrói, lia eu outro dia a respeito da vida, que esta é como um tapete. A cor e o tecido já vêm prontos mas somos cada um de nós que o tece. Somos nós que fazemos a nossa vida e que percorremos o nosso caminho de construção individual, para isso é necessário realmente nos conhecermos. Os nossos pais, a nossa família, os nossos amigos, a sociedade em geral, dão-nos a cor e o tecido, mas quem constrói o tapete da nossa vida somos realmente nós, baseados naquilo que somos e que aprendemos. No entanto este tapete está sempre em construção desde o dia em que nascemos, é necessário que por vezes tenhamos a consciência do que foi vivido, para aprender com as experiências passadas. Ouvimos muitas vezes, que “somos um produto da sociedade em que vivemos”, que “foi a educação que teve”, isto muitas vezes para justificar más opções, caminhos menos bem conseguidos. Apesar de sermos bastante susceptíveis à educação dos nossos pais, somos também resultado das nossas experiências, o que quer dizer que seguimos o nosso caminho, mesmo que seja bastante diferente daquele caminho que nos foi indicado por quem nos deu educação. Por isso apesar de todo o tecido e cores que nos proporcionam, cabe ao indivíduo seguir o seu caminho, fazer as suas escolhas. Lembro-me da metáfora do retrovisor, quando conduzimos olhamos para a frente. Mas por vezes quando necessário, olhamos para o retrovisor para nos orientarmos, para olharmos para o caminho percorrido para um ou para outro obstáculo que enfrentámos, enfim, para o vivido. No entanto, depois olhamos para a frente e continuamos o nosso caminho, sem nunca o vivido deixar as suas marcas na nossa vida, sendo de extrema relevância naquilo que somos e interferindo decisivamente para aquilo que seremos.
Isto é, será sempre necessário para nos conhecermos melhor, que tenhamos o cuidado de olhar para trás, reflectir nas experiências vividas e utilizá-las para resolver problemas futuros. No entanto somos muitas vezes, neste percurso, atormentados por “fantasmas” que não permitem que nos possamos construir de uma forma saudável. È, de elementar importância que possamos pelo menos assumir a existência desses fantasmas, reflectindo sobre as nossas histórias de vida. Este exercício, que encerra em si, uma construção interior, para quem o consegue fazer sem se tornar fonte de sofrimento. Sem duvida, que um povo só cresce quando tem consciência da sua própria história. Não se refugia em medos e preconceitos, mas enfrenta, encara e enaltece, as suas vivências, nos seus domínios positivos e negativos. Aproveita os positivos para continuar e analisa os negativos para melhorar
Como nos diz Huxley experiência não é o que aconteceu contigo, mas o que fizeste com aquilo que te aconteceu. A história de vida de cada indivíduo é um processo singular de (re) construção individual.
Só tendo consciência do que somos, das nossas virtudes, das nossas fraquezas e limitações é que podemos eventualmente cuidar bem de nós. Não podemos ajudar o outro se, primeiro, não nos cuidarmos. É essencial vermo-nos de uma forma holística, para balizar convenientemente as nossas capacidades, os nossos limites, as nossas carências e as nossas fragilidades. Tenho a necessidade de por vezes olhar para dentro, fazer uma “re-flexão” sobre mim para conhecer o lugar que ocupo, e quem eu sou realmente. Existe, por vezes, a necessidade de transmitir aos outros uma ideia de quem somos, numa perspectiva de corresponder ás expectativas que por vezes não corresponde á verdade. Esta “dupla” personalidade cria, por vezes momentos de angústia de alguma frustração. Há por isso a necessidade de cuidarmos também de nós antes de cuidarmos do outro. Como é que alguém pode confiar em mim se eu não me cuido.
Depois é necessário clarificar o que o outro realmente representa para mim. No que concerne à enfermagem e assumindo que a relação de ajuda está presente em todos os domínios do cuidar, esta pergunta é essencial para que se consiga ter uma relação empática, justa e verdadeira. È necessário, em primeiro lugar, também ter auto-compaixão, antes de ter compaixão pelo outro. Compaixão é sem duvida um dos sentimentos mais nobres num ser humano. Não, quando é visto numa perspectiva de caridade, de sobranceria ou superioridade, mas quando é visto como o resultado do sentir verdadeiramente como seu o sofrimento do outro. Não é o mesmo que piedade ou algo passivo, pelo contrário, compaixão é ter a virtude de compartilhar o sofrimento do outro, é a capacidade de compartilhar a paixão do outro e com o outro, saindo do campo puramente individual para entrar no universo do outro. Desse modo, assume o sentido de empatia. É ver o outro de forma igual. Na perspectiva do cuidar assume -se como essencial a relação de ajuda, pois esta é apontada como uma das vias para a humanização da saúde. Assim, a relação de ajuda é entendida como uma forma de cuidar na perspectiva do cuidado, ou seja, o papel do profissional de saúde é ajudar o utente a satisfazer as suas necessidades fundamentais, acreditando que o utente possui os recursos que lhe são necessários para lidar com determinada situação, construindo a autonomia do utente.

domingo, 25 de novembro de 2007

Uma Carta ao senhor Ministro da Saúde

Por norma este blog não foi criado para assuntos sindicais ou emitir opiniões politicas, para isso emito a minha opinião noutros locais. No entanto na minha perspectiva esta carta merece ser lida, não só por uma abordagem extremamente original de uma temática que hoje preocupa a todos os enfermeiros.
Carta retirada de http://www.forumenfermagem.org/forum/index.php?topic=1510.0

"Exmo. Senhor Ministro da Saúde Correia de Campos,
Sou uma pessoa que concluiu, este ano, a Licenciatura em Enfermagem e venho, com grande embaraço, pedir-lhe emprego.
Eu sei que é um pedido estranho mas foram pessoas que já estão a trabalhar na área que me aconselharam a fazê-lo. O que me têm vindo a dizer é que devo pedir uma “cunha”. No início desconhecia a palavra e então fui ver ao dicionário e encontrei isto: “instrumento de ferro ou madeira, para fender pedras, madeira, etc.”. Mesmo a achar estranho, fui à procura de uma mas não encontrei na minha cidade e não podia ir a outra pois os meus pais não me tinham dado dinheiro suficiente. Os meus pais, coitados, já me deram tanto dinheiro durante o curso (imagine a darem 970€/ano no mínimo, mais dinheiro alojamento, alimentação, livros, fotocópias e outras coisas) e agora para cartas, avisos de recepção, fotocópias, autenticações, etc. só para concorrer para listas de espera para trabalhar. Ai, peço desculpa pelo desabafo. Voltando à “cunha”. Como disse não encontrei nenhuma “cunha” e desisti.
Passados uns 3 meses de ter acabado o curso decidi ir trabalhar para outra coisa sem ser enfermeiro, para não pedir mais dinheiro aos meus pais. Fui, então, a um shopping na minha área de residência, ao Dolce Vita que de certeza que deve conhecer, e entrei numa loja de sapatos para crianças. Entreguei o meu curriculum vitae, onde não ocultei a minha Licenciatura em Enfermagem, a Dona da Loja disse logo “Um Enfermeiro a pedir emprego numa Sapataria, está assim tão mal?”. Após uns 3 minutos de conversa ela diz logo para começar no dia seguinte. No primeiro dia fiquei com ela em integração e em conversa ela perguntou porque não arranjava uma “cunha” para os hospitais mais pertos, ao que respondi que não encontrei nada mas que o pedreiro, meu vizinho, sabia de uma loja que vendia umas. Logo a Dona começou a rir-se e então perguntei porquê tal gargalhada. Prontamente me explico que “cunha” também significa pessoa que consegue pedir a que admite os Enfermeiros nos Hospitais ou outra entidade de saúde para os colocar à frente de outros ou simplesmente lhe dar emprego.
E então pensei: como não conheço ninguém assim por que não pedir ao Ministro da Saúde, o mais indicado para esta situação e que tem o mesmo apelido que eu, para que fosse a minha “cunha”? É esse o motivo pelo qual lhe mando este e-mail a pedir-lhe emprego. Posso dizer-lhe que não tenho experiência profissional, pois os estágios académicos não contam. No entanto, posso dizer-lhe que tenho imensa experiência em Pediatria por trabalhar neste momento numa loja de calçado para crianças, em Ortopedia por que vendo sapato formativo e ortopédico e em Infecciologia por que vendemos palminhas anti-bacterianas e anti-fúngicas.
E agora você deve estar a questionar-se o porquê de ainda não ter um emprego como Enfermeiro tendo eu esta experiência toda e se me candidatei aos concursos que abriram. Eu candidatei-me mas tenho ficado em 300º lugar ou em outros em 1000º lugar. E com poucas vagas (eu compreendo que você tem uma cota definida para meter “cunha”) é difícil ficar com um emprego. Eu penso que fico com esta classificação porque a maioria têm mais experiência em Sapataria, Bares, McDonald’s, entre outras coisas do que eu. O facto de concorrem muitos Enfermeiros penso que se deve ao facto de ainda pensarem que “cunha” significa “instrumento de ferro ou madeira, para fender pedras, madeira, etc.”.
Sem mais nenhum assunto termino este e-mail pois quero chegar cedo à passagem de turno da loja. E ainda tenho muitas coisas para fazer hoje, pois em um mês sou como um gerente da loja, disse a Dona da Loja que tinha excelente capacidades e que os serviços de saúde perdiam muitos em não me ter. O mesmo dizem os Clientes, a quem faço questão de dizer que sou Enfermeiro pois sei lá se qualquer diz não aparece na loja um parente seu e me ajude.
E deixo-o, então, com este meu pedido e rezo, agarrado à “cunha” de metal que comprei com o meu primeiro ordenado na loja, que me consiga algo urgentemente.

Cumprimentos,
Um Enfermeiro perto de si"

Dias de Uma P.G. VIII

Novamente hoje só tivemos aulas no período da tarde. Foi a última aula do módulo Técnicas Expressivas. Hoje falámos do contexto teórico deste módulo. Foram observadas várias técnicas, desenho, modelagem e recorte. Mais uma vez como tem acontecido neste módulo sinto que posso aplicar estas técnicas no meu serviço. Tenho no entanto pena que estas aulas tenham terminado. Além de serem, sem dúvida, importantes no que concerne à minha aprendizagem, também para mim são como um escape de algum stresse acumulado.
Estamos a chegar ao fim do primeiro semestre, o trabalho acumula-se de uma forma quase impensável. Dizia eu a uma professora desta Pós-Graduação que é pena não ter mais tempo para trabalhar. Ela perguntou-me se “apetecia ter mais tempo”. Respondi que sim, mas não se trata de apetecer mas sim de necessidade. Necessito ter muito mais tempo para aprofundar as matérias dadas nesta Pós-Graduação.
Escrevo este texto, após ter olhado um pouco sobre o que fiz neste portfólio e, sinceramente, o volume de trabalho é considerável. Se agora sei tudo sobre o que escrevi e sobre o que li? Não sei. Se posso falar de tudo com segurança sobre tudo o que li? Talvez. Se me sinto satisfeito com o conteúdo deste portfólio? Sim. Embora do aprendido à aplicação desse aprendido ainda se imponha algumas distâncias, necessito acima de tudo, criar tempos e espaços para aplicar estas técnicas dadas e outras por mim pesquisadas e já em análise da equipa de enfermagem da qual faço parte, para efectivamente começar a mudar algo na vida das pessoas, com o que foi por mim aprendido.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ESCRITA CRIATIVA



As perguntas que hoje mais me fazem são:
- Pai, o que andas tu a estudar? O que andas tu a aprender?
- É uma pergunta que ainda me coloco e que ainda não tenho resposta definitiva. O que já vos posso dizer é que ando a aprender em primeiro lugar a conhecer-me e talvez a compreender melhor os outros.
Sempre se disse que, quem escolhe o ramo da Saúde Mental / Psiquiatria, pretende essencialmente, ou tratar-se ou tratar os outros. Quando falo em tratar-se, ponho o termo no domínio do cuidar-se. Isto significa ver com outros olhos as nossas coisas, as nossas atitudes, o nosso posicionamento sobre as nossas coisas e com os outros e, reflectir sobre isso. È talvez reflectir sobre o vivido e aprender sobre nós, sobre o que somos e o que realmente fazemos, tanto a nível profissional como pessoal.
Quando falo sobre tratar dos outros é por mim entendido como cuidar de…, não ver o outro como uma perna, um braço, um pulmão ou um fígado, mas conhecê-lo como um todo, tendo em conta as suas experiências de vida, qual o sentido que quer dar à sua vida e o seu posicionamento sobre os seus assuntos e sobre as suas coisas.
O conhecer o outro não é como compor uma manta de retalhos. Assim como, eu para ser eu necessito dos outros, pois só com os outros eu me completo, também os outros que me rodeiam se completam comigo. Todos nós somos, assim como um cobertor, a cor e o fio são os outros que nos fornecem, mas somos nós que o tecemos.
- Pai, sendo assim, és como o Orelhas, que ajuda o Noddy a conhecer-se melhor e ajuda-o quando ele está triste?
- Não filhas, o Orelhas é como um guia, como a voz da consciência do Noddy. O pai não tem essa pretensão. Aquilo que o pai ambiciona é simplesmente ajudar os outros a superar momentos de crise.
- Pai, mas isso é o que faz o Senhor Lei, a Macaca Marta, o Orelhas, a Ursa Teresa.
- Sim filhas, somos todos nós que nos ajudamos uns aos outros a superar momentos de ansiedade e de crise. Provavelmente existe em cada um de nós um bocadinho dessas personagens do Noddy. Mas muitas vezes, mas mesmo muitas vezes, sou simplesmente o Noddy.

Historia de Vida - Filme

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dias de uma P.G. VII

Já há duas semanas que não ia às aulas. Uma semana por motivos profissionais e outra porque fiquei apeado na auto-estrada, sem carro, que resolveu avariar, infelizmente, para sempre. Coisas que acontecem.
Recebi ontem a noticia que vou participar na abertura do Serviço de Psiquiatria do Hospital Garcia de Orta.
Hoje, o dia de aulas foi sem dúvida um dia produtivo. Eu e mais dois estudantes da Pós-Graduação apresentámos o que já tínhamos feito relativamente ao portfólio. As minhas dúvidas dissiparam-se, os meus receios afinal não têm razão de ser. Vejo que estou no bom caminho e na minha opinião a produzir trabalho que é válido na aprendizagem das temáticas da saúde mental. Apresentei o meu filme “você aprende”, sobre mim e sobre os meus gostos, sobre como vejo a vida. Este filme é feito com fotografias minhas, imagens que gostei e excertos de filmes que me marcaram nas diferentes etapas da minha vida. Apresentei também a estrutura do meu portfólio.
Na aula da tarde, técnicas expressivas, fizemos exercícios de dinâmicas de grupo. Foi sem dúvida excepcional. Conversei com colegas com os quais ainda não tinha conversado, já que a dinâmica incidia muito sobre a confiança. Penso que estas dinâmicas podem ser bastante úteis no meu serviço, uma vez que, também nós não nos conhecemos.
Estas dinâmicas, podem ser úteis em grupos que necessitem de adquirir confiança entre os membros, assim como, permite uma maior auto-confiança do indivíduo. Promove o trabalho em equipa e estimula a entreajuda.
Cada vez mais me sinto motivado para aprender mais sobre estas técnicas, para poder executá-las não só nos profissionais do meu serviço, assim como, nos nossos doentes.
Há hora do pequeno-almoço, tive a oportunidade de trocar algumas impressões sobre o portfólio, sobre o meu e dos outros. O meu ficou parado por uns dias, uma vez que estou a elaborar normas e um trabalho de pesquisa sobre as doenças psiquiátricas mais comuns, uma vez que estou a abrir o Serviço de Psiquiatria no Hospital Garcia de Orta. Talvez o portfólio não esteja mesmo parado, uma vez que estou a trabalhar para compreender melhor as patologias do doente psiquiátrico. Esta mudança não está a ser fácil. Primeiro, as despedidas do Serviço de Pneumologia. Pessoas que muito gosto e com quem partilhei espaços e tempos de vida, vão deixar de estar em convívio diário comigo. Lá estou eu a fazer analogias entre as despedidas e a morte. Segundo, por entrar num novo serviço que me pode oferecer novas oportunidades, como diz Francis Bacon “ O homem deve criar as oportunidades e não somente encontrá-las”. A ver vamos, mas começo a claudicar, devido a algum cansaço acumulado. Espero recuperar as energias, pois o mês de Julho parece ser intenso e ainda tenho muito que pesquisar e escrever para o portfólio.
Sinto-me em falta para com as colegas que partilharam comigo as histórias de vida. O primeiro semestre da Pós Graduação está a terminar, o portfólio está por acabar e o trabalho nos meus dois hospitais mantém-se, pelo que será necessário fazer opções, mesmo que me apeteça muito estar em todo lado, é humanamente impossível. Resolvi não ir à aula da manhã.
Fui então, depois de um sono reparador depois de uma saída de vela, à aula da tarde. Depois de efectuarmos o ritual das mesas e cadeiras e do aquecimento, a aula de técnicas expressivas hoje debruçou-se sobre pintura, comunicação expressiva de emoções através do desenho. A temática do desenho era simples, desenhar sobre um sonho recorrente na nossa vida. Se a temática era simples, a tarefa pareceu-me mais complicada, pois escolher de entre muitos sonhos que me incomodaram, ou que realmente me fizeram feliz, não é fácil.
Resolvi desenhar, sobre um sonho que tive várias vezes, quando era adolescente. Chamo-lhe, o “pânico das portas”. O medo de chegar atrasado ao um teste na escola, provoca sonhos que definitivamente nos incomodam. A ansiedade e a insegurança instala-se quando queremos bater a todas as portas e nunca encontramos, a porta certa, para cumprir as nossas tarefas.
Quantas vezes na vida também não sentimos estas angústias por não sabermos a que porta bater para seguirmos em frente, ou, quantas vezes não nos depararmos com várias alternativas e sentimo-nos indecisos sobre o caminho a seguir.
A tarefa seguinte foi explicarmos os nossos desenhos, mais uma vez fui o primeiro a fazê-lo, afinal é sempre necessário alguém para quebrar o gelo, para se continuar a aula. Foi extremamente divertido, embora, a brincar se fale de coisas sérias.
Só tenho pena destas aulas estarem a terminar. Além de serem aliciantes, servem também para nos mostrar o potencial terapêutico destas técnicas. Para mim, pelo menos, sinto que é terapêutico, pois sinto-me mais relaxado, mais confiante e no grupo encontro elos mais fortes, dada a partilha que fazemos nestas aulas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Continua-se a Falar de Formação


“O que fazemos contribui para o que somos, o que somos revela-se no que fazemos”
(Couceiro, 1998:p.60)

COMENTÁRIO

Para analisar esta frase cheia de sentido, temos que a analisar sob vários domínios. O domínio da formação, da experiência, o domínio da competência profissional e do domínio da moral e da ética.
Segundo Canário (1999, p.109) “ A experiência de quem aprende torna-se o ponto de partida e o ponto de chegada dos processos de aprendizagem, (…)”. O processo de formação permanente está de acordo com o conceito de ser humano como ser inacabado, em que deverá existir um reconhecimento das experiências como processos de aprendizagem.
Assim Canário (1999) acha que o homem está sujeito a “aprender para se construir, segundo um triplo processo de hominização (tornar-se homem), de singularização (tornar-se exemplar único, de socialização (tornar-se membro de uma comunidade, da qual partilha valores e em que ocupa um lugar). Aprender para viver com outros homens, com os quais partilha o mundo” (p. 109)
Torna-se deste modo evidente para todas as novas teorias de formação, nomeadamente a formação de adultos, a extrema importância dos saberes adquiridos por via experiencial e o seu papel na produção de novos saberes. Este reconhecimento sugere a quem pretende experimentar qualquer processo de aprendizagem, a utilização da experiência como principal recurso de formação.
Canário (1999, p.116) entende que “ a formação é, assim, feita de momentos que só adquirem o seu sentido na história de vida”. Nóvoa (1988, p.115) entende que “formar-se não é instruir-se, è antes de mais reflectir, pensar uma experiência vivida, (…) é aprender a construir uma distância face à experiência vivida, é aprender a conta-la através de palavras, é ser capaz de conceptualizar”.
A história de vida de cada indivíduo é um processo singular de (re) construção dos sujeitos. Partimos deste entendimento para estabelecer um análise da acção, considerando os aspectos profissionais de cada indivíduo. O aspecto da vida de uma pessoa está intrinsecamente relacionado com a sua prática profissional.
Assim sendo e partindo destas premissas, aquilo que fazemos contribui para aquilo que somos. Já que, aquilo que somos é influenciado por toda a nossa experiência adquirida durante a nossa vida. Quando fazemos algo, mobilizamos todos os conhecimentos apreendidos até aí.
No contexto profissional, quantas vezes damos por nós a dizer ou a fazer algo que há uns anos atrás não faríamos desta ou daquela forma. Não quer dizer que mudamos de atitude, ou que antes fazíamos de forma errada. Ou quantas vezes encontramos um profissional mais novo e nos revemos naquilo que ele faz ou diz, embora que hoje a nossa compreensão de um determinado fenómeno ou foco de atenção seja feita de uma forma diferente. Penso que a experiência, a maturidade profissional é que faz a diferença. Como refere Canário (1999, p.109) “ (…) experiência nos processos de aprendizagem supõe que esta é encarada como um processo interno ao sujeito e que corresponde, ao longo da sua vida, ao processo de auto-construção como pessoa”. Logo, mobilizamos saberes e experiências ao longo de toda a nossa vida para resolver uma qualquer situação que se nos depare. Quando falamos em o que fazemos não é desprovido de sentido falar de competências. Nunes (2002, p.9) afirma que “ (…) a competência profissional assume características multidimensionais e aquilo que cada um espera vai sendo modificado pelas experiências de vida reflectidas”. Também Hesbeen (2001, p.27) refere que “ o prestador de cuidados é um perito porque dispõe de diferentes saberes provenientes da sua vida pessoal como da sua formação e da sua experiência profissional”.
Novamente Nunes (2002, p.8) “ há um estilo pessoal que se constrói, relacionado com a reflexão sobre o vivido e a vontade de adequar os comportamentos e as atitudes”, Pires (1994, p.9) avança que “a competência é forjada ao longo de um percurso feito de experiências, de projectos e de praticas, de estudos e de actividades, por aspectos operativos, afectivos e intelectuais”. O balanço das competências comporta uma etapa autobiográfica que resulta no autoconhecimento das competências e conhecimentos adquiridos na escola, na família e no trabalho. Exige um esforço pessoal de autoavaliação e de formalização dos saberes adquiridos tendo em vista a definição de um projecto pessoal e profissional. Esta perspectiva é realçada no texto por Canário. Por tudo isto considero e corroboro a primeira parte da frase que afirma que o que fazemos contribui para o que somos.
A segunda parte da frase indica que o que somos revela-se no que fazemos. Mais uma vez não podemos descurar como atrás referido na análise das competências profissionais. No entanto, aquilo que somos também assume uma perspectiva ética e moral do que fazemos. Somos o produto de uma educação que nos foi incutida em casa, na sociedade, nos locais de trabalho, mas acima de tudo somos singulares na visão dos fenómenos, isto porque também temos uma identidade própria. Tivemos influências e valores diferentes, já que essa diversidade também acontece pela multiplicidade de histórias de vida.
A nossa atitude enquanto enfermeiros, revela necessariamente o que somos, as nossas crenças, pois como refere Hesbeen (2001, p.65) refere que “ a reflexão é incontornável nas profissões que cuidam desde que estes queiram decididamente abordar a pessoa e não apenas o seu corpo”.
A reflexão da prática assume sempre um papel fundamental no domínio pessoal e profissional. Pois como refere Canário (1999) falando da aprendizagem relacionada com a prática associada ás histórias de vida “ A prática do reconhecimento dos adquiridos experienciais tem como fundamento não apenas, nem sobretudo, a cumulatividade das experiências vividas mas a capacidade do sujeito para as tirar e reelaborar, integrando-as como saberes susceptíveis de serem transferidos para outras situações”. (p.112)
Quando trabalho com doentes em fase terminal, lembro-me de quanto inicialmente era difícil para mim lidar com o sofrimento, com a dor e com a morte. Eram essas as minhas dificuldades, fruto talvez de uma educação Judaica-Cristã em que o sofrimento está presente como penitencia dos pecados. Lidar com as famílias no seu desespero, desesperava-me.
Hoje amenizei esse desespero, com estes anos de profissão, a experiência ensinou-me a lidar com estes doentes, a reconhecer os seus sentimentos, as suas angustias e o seu sofrimento. Esta mudança de comportamento, não aconteceria se porventura não tivesse sistematicamente lidado com este tipo de situações, não tivesse lido ou falado das experiências dos outros, que como eu passaram por este tipo de situação e lidaram com este problema de diferentes formas, utilizando diversas estratégias. O que fiz foi encontrar o meu caminho, as minhas convicções e as minhas fragilidades e reorganizar-me interiormente. Por isso, considero que a minha formação neste domínio teve muito de investimento pessoal, muita reflexão destas experiências formadoras. Moniz (2003, p.18) citando Josso (1993) considera a experiência formadora “quando submetida a um processo de reorganização, de reconstrução e de modificação”.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Dias de uma P.G. VI



A unidade curricular de hoje é relação de ajuda/ Processo de aconselhamento. Hoje a aula foi um revisitar dos conteúdos dados. Foi como arrumar as coisas, etapas, papéis e conceitos ficaram na minha perspectiva bastante melhor esclarecidos. Hoje é a última aula com o Dr. João Geraldes, penso que estas aulas foram decisivamente positivas, pois é dado uma perspectiva diferente da relação profissional/doente de alguém externo à enfermagem. Muitas coisas foram cimentadas hoje e decisivamente, na minha perspectiva, poder-se-á fazer a relação de processo de aconselhamento/ Aliança terapêutica e relação de ajuda. Faz sentido agora depois de ler o livro “Processo de Aconselhamento”, reflectir sobre as nossas práticas à luz do que é o processo de aconselhamento.
Hoje o dia de aulas foi completo. Ás 8 horas e 30 minutos começou o módulo Narrativas de Vida. Esta aula foi como um reviver de sentimentos da aula passada em que nos contámos ao grupo. A grande diferença é que desta vez reflectimos sobre as nossas experiências e partilhamos o que sentimos. Muitas vezes somos confrontados com situações que nos incomodam sem saber bem porquê. Estes momentos de partilha de experiências serve também para pensarmos que não somos os únicos a sentir o que sentimos. Foi basicamente isto que se passou, há primeira vista parece pouco, mas se analisarmos com mais atenção o que se passou veremos que muita coisa foi apreendida e muita coisa foi reflectida.
À tarde, iniciámos um novo módulo sobre Técnicas Expressivas. Sinceramente tinha algumas fantasias sobre este módulo. A primeira aula correspondeu totalmente a estas fantasias, digo até que superou, uma vez que vi as potencialidades terapêuticas da técnica abordada. Falou-se de escrita criativa, e elaborámos um texto sobre a pós-graduação. Em primeiro lugar não sabia o que escrever, mas ocorreu-me que seria criativo explicar às minhas filhas o que o pai andaria a aprender na escola, uma vez que também o pai lhes pergunta o que elas andam a aprender na escola.
De seguida analisámos os textos de alguns colegas e o meu texto. Somos sem dúvida diferentes uns dos outros, pois aquilo que nos move é diferente, os nossos interesses são, definitivamente, diferentes, apesar de todos nós queremos concluir com aproveitamento esta pós graduação. Foi sem dúvida aliciante. Fiz algumas pontes nesta técnica com o processo de aconselhamento e sem dúvida com as narrativas de vida. Como se costuma dizer na gíria futebolística fiquei adepto deste módulo e desta técnica em particular.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Para a minha avó..



Porque a familia é muito importante e esta semana perdi a última avó.
Descansa em paz avó Gusta...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

strike zone

Mais um filme de Cameron Duncan sobre a sua história de vida... Mais um relato impressionante. A ver... com muita atenção.

strike zone

Dias de Aulas de uma P.G. V




Era então hoje o dia da narração das histórias de vida. O grupo tinha sido estabelecido na aula anterior, consoante as experiências em outras situações pedagógicas semelhantes. O meu grupo é constituído por mim e mais três colegas mulheres.
Fui o primeiro a narrar a minha história de vida. Apesar de estar habituado a fazê-lo, não deixa de ser sempre uma nova descoberta e um novo encontro comigo, com o meu passado, com o meu vivido. Aspectos positivos que são exprimidos com sorrisos, e aspectos com carga negativa contados com mais emoção. Falei ininterruptamente durante cerca de 28 minutos. O sentimento de partilha é sem dúvida interessante, uma vez que estava-me a contar perante três pessoas, que apesar de colegas, penso ser a primeira vez que estava a falar com elas. A segunda colega falou com emoção, era a primeira vez que teve “coragem” para contar uma experiência traumática, senti que se encontrou com os seus “fantasmas”, senti-a inicialmente perdida, insegura e vulnerável. Com o passar do tempo o seu discurso passou a ser mais confiante, embora não disfarçasse a emoção.
A terceira colega a falar, pareceu-me uma mulher mais vivida e com os seus “fantasmas” dominados, era sem duvida uma história sofrida, cheia de desencontros e carregada de sofrimento. Pareceu-me alguém que já reflectiu este período da sua vida e finalmente encontrou o seu caminho.
A última colega a narrar a sua história de vida, prometeu que não falaria muito, uma vez que se sentia incapaz de se contar. Realmente teve bastante dificuldade, mas sentiu que aquele momento de partilha de experiências tinha sido genuíno e tentou partilhar com o grupo.
Ao analisar as histórias de vida, há sem duvida uma preponderância de movimentos negativos. O sofrimento é sem duvida o que é mais difícil de relembrar, embora porém, talvez seja aquele que mais necessidade teremos de partilhar. Ao contarmos momentos traumáticos, enfrentamos os nossos medos e inseguranças. Acredito que quando as contamos repetidamente estes nossos “fantasmas” passam a ter um peso bastante menor na nossa vida, conseguindo cada um de nós seguir com uma vida mais saudável.
Depois deste momento, tivemos reunião de supervisão de cuidados. A reunião com o professor, teve como objectivo, analisar o caminho percorrido na elaboração dos portfólios. Sinto que apesar de tudo, estou a desenvolver um trabalho que vai de encontro aquilo que se pretende, alem disso estou a sentir prazer em fazê-lo e estou sem duvida a aprender coisas sobre saúde mental, que para mim eram completamente desconhecidas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

DFK6498

DFK 6498

Este filme foi realizado por Cameron Duncan, jovem realizador da Nova Zelandia a quem foi diagnosticado um osteosarcoma do joelho esquerdo. Este relato é deveras impressionante. Este jovem já faleceu, após este filme. Peter Jakson incluiu dois dos seus filmes no DVD dos senhor dos Aneis. A ver...com muita atenção.

domingo, 28 de outubro de 2007

ESQUIZOFRENIA



2007-10-28 - 00:00:00
Esquizofrenia ausência de apoios castiga doentes


Para os doentes a quem a Medicina entendeu chamar de esquizofrénicos, a distinção entre realidade e imaginação torna-se tarefa difícil e os momentos de alucinação acabam por ser partilhados por toda a família. Tudo porque, em Portugal, a maioria destes doentes vive a cargo da família, obrigada a enfrentar a doença sem apoios.


É para a falta de ajudas que Marques Teixeira, director clínico do Centro Hospitalar Conde Ferreira, no Porto, chama a atenção. Fala no “estigma” que ensombra a sociedade, com manifestações “que se estendem desde o nível político ao senso comum”. Para este especialista, é preciso, acima de tudo, mudar mentalidades, já que os esquizofrénicos “são doentes e pessoas que têm direito a ser tratadas como tal”.Tal como acontece noutros países ditos desenvolvidos, cabe às famílias a dura tarefa de cuidar dos doentes. Para os que se vivem sozinhos, sem apoio familiar, pouco mais resta do que as estadias nos hospitais psiquiátricos ou, em alternativa, a marginalidade. “Como não há uma rede de suporte que cuide destas pessoas, muitas acabam nas ruas, como sem-abrigo, fenómeno que ocorre com cada vez maior frequência na Europa.” Tendo em conta a ameaça de encerramento que paira sobre as unidades de cuidados psiquiátricos nacionais, Teixeira Marques teme que esta realidade chegue em breve a Portugal.Pede-se, por isso, mais meios e uma maior alocação de recursos. “Estamos praticamente a zero quando se trata da rede de apoio comunitário, necessária para apoiar os doentes nas famílias”, avança o médico. E a justificação para a falha é simples: “Deficientes políticas de saúde mental”, um problema que não é recente.Outras questões põem em causa a qualidade de vida de quem sofre com esquizofrenia, como o número de camas disponíveis nos hospitais ou a questão da reabilitação e integração social. Se há doentes para quem este cenário não é possível, outros há que, com o devido apoio médico e psicológico, têm a possibilidade de ocupar um lugar produtivo na sociedade. Para isso são necessários programas e estruturas de apoio que, segundo Marques Teixeira, “não existem em Portugal”.

BRILHO QUE A DOENÇA NÃO APAGOU

Chama-se John Nash Jr., é norte-americano e sofre de esquizofrenia, diagnóstico que não apagou, no entanto, o brilho de uma mente considerada por muitos genial. Nash podia ser mais um nome a juntar ao de tantos outros doentes no Mundo, mas saltou para a ribalta depois de, em 1994, ter ganho o Nobel da Economia graças a uma tese de doutoramento na área da Matemática, escrita décadas antes. Começou cedo a interessar-se pela ciência dos números, que o levou longe na carreira académica, apenas interrompida, no início da década de 60, por uma esquizofrenia paranóica, combatida por tratamentos que incluíram o internamento. Tornou-se o exemplo do potencial de quem sofre com este problema, retratado pela indústria de Hollywood no filme ‘Uma Mente Brilhante’.

USO DE CANNÁBIS LEVA A CRISES PSICÓTICAS

Há indícios que apontam para a possibilidade de o consumo de canábis poder provocar crises psicóticas e já foi demonstrado que o contacto com as drogas favorece o aparecimento da esquizofrenia quando já existe predisposição para a doença.Outros estudos revelam, porém, que os doentes têm, por motivos ainda pouco claros, maior tendência para o consumo de tóxicos. Independentemente de quem tenha razão, há uma certeza: consumir droga piora o prognóstico da doença, o que levou as Nações Unidas a pedirem o fim da tolerância dos países mais desenvolvidos em relação ao consumo de algumas substâncias, como o álcool ou a canábis, considerado aceitável na maior parte das nações. E mesmo a canábis é legal e considerada inofensiva em alguns países.Muitos especialistas defendem que a possibilidade de sofrer de alucinações ou pensamentos delirantes que não se ajustam à realidade – sintomas da esquizofrenia – aumentam em quem consome regularmente drogas. Estes estudiosos não duvidam de que as drogas precipitam episódios psicóticos. Outros defendem que é a doença que favorece o consumo.

FACTOS E NÚMEROSCUSTOS ELEVADOS

A esquizofrenia é uma das doenças que mais contribui para a despesa com a saúde nos países desenvolvidos. Na Europa, estima-se que contribua com 1,9 por cento do total do orçamento para a saúde.

EM PORTUGAL

Estima-se que a esquizofrenia afecte entre 60 a 100 mil portugueses. De acordo com um estudo, 64,4 por cento dos doentes depende da família e só 18,6 por cento tem uma relação com um companheiro.

INSERÇÃO

Ainda de acordo com o mesmo estudo, 35 por cento dos doentes está no desemprego ou na reforma, enquanto 41,5 por cento diz não ter actividades sociais com amigos ou família.

TRATAMENTOS

Cerca de três quartos dos esquizofrénicos não sofrem recaídas no prazo de três anos, sinal da eficácia dos tratamentos.

NOTAS:EM QUE CONSISTE A DOENÇA?

A esquizofrenia é uma doença mental grave que altera de forma significativa a vida de quem dela sofre e dos seus familiares. Os afectados têm dificuldade em distinguir o que é ou não real, tendo comportamentos estranhos.

QUAIS SÃO AS SUAS CAUSAS?

Não são totalmente conhecidas as causas por detrás da doença. Sabe-se que na sua origem estão factores genéticos e ambientais, afectando uma em cada 100 pessoas. É mais comum manifestar--se na adolescência e em adultos jovens.

QUE SINTOMAS APRESENTA?

Os sintomas são muitos e manifestam-se de forma diferente de pessoa para pessoa. Sabe-se que, em 30 por cento das situações, é uma doença que está associada ao consumo de substâncias tóxicas, aumentando o risco de suicídio.



Carla Marina Mendes
“In correio da manhã de 28/10/2007”

sábado, 27 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G. IV



Hoje é um dia em cheio, temos todo o dia aulas. Sinto-me um pouco cansado, dezasseis horas de trabalho todos os dias têm-me feito vacilar um pouco, e toldam-me um pouco o raciocínio. Introduzimos o estágio na P.G.
Foi definido o que era pretendido na construção do portefólio. Fiquei um pouco desiludido, pois a ideia que já tinha em mente para construir o meu portefólio já não é exequível, uma vez que tem de ser construído em suporte informático. Mas como tudo na vida, construir, reconstruir faz parte dos processos de formação e de crescimento pessoal, terei que me debruçar mais tarde sob a forma como irei apresentar a minha aprendizagem.
Foi mais tarde introduzido mais um módulo de Saúde Mental e Comunitária. Foi uma aula de exploração. Primeiro tentámos apontar a característica mais importante em nós. Curioso, perseverante, dinâmico, justo, persistente, verdadeiro e exigente, foram algumas das características que definiam o maior número de estudantes. Estas características, revejo-as nas capacidades e nas virtudes que o enfermeiro deve ter, eram estas, as características atribuídas à turma.
Há tarde, mais uma aula de ética. Desta vez estávamos a PG de saúde mental, e a PG de Médico-cirúrgica Urgência/Emergência. Falou-se de autonomia vs vulnerabilidade. De quanto mais autónomo o doente se encontra, menos vulnerável se sente e vice-versa. Senti que, cada vez mais estas questões fazem mais sentido, uma vez que perfeitamente se enquadram na minha experiência.
Vem de encontro aquilo que defendo desde sempre, que o paternalismo/maternalismo, que por vezes se quer fazer passar como bons cuidados de enfermagem, não passam de uma maneira de manter a vulnerabilidade do doente e consequentemente a sua dependência. Promover a autonomia é sem dúvida, o objectivo final dos cuidados de enfermagem.
A cada dia que passa sinto-me mais motivado. Iniciou-se hoje mais um módulo da P.G., Narrativas de Vida. Há alguns anos apliquei esta metodologia de formação e realmente, é um domínio de bastante interesse e que se enquadra naquilo que realmente penso sobre formação. Não só em termos formativos é benéfico, como também, em termos da nossa saúde mental adquire uma importância fundamental. Contarmo-nos e escrevermo-nos é um exercício, que encerra em si, uma construção interior para quem o consegue fazer. Sem duvida, que um povo só cresce quando tem consciência da sua própria história. Não se refugia em medos e preconceitos, mas a enfrenta, a encara e a enaltece, nos seus domínios positivos e negativos. Aproveita os positivos para continuar, analisa os negativos para melhorar. Penso que as narrativas de vida também contêm este processo de crescimento pessoal.
A aula foi introdutória, mas já se vislumbrou por que caminhos, pode enveredar. Falámos de narrativas de vida e de “empowerment”, onde na nossa história de vida tivemos perante a situação de dar poder ou ter o poder de decidir sobre a nossa vida.
A hora de almoço mais uma vez foi um momento de conhecimento dos colegas, das experiências, das expectativas. È sempre um momento formativo, estas conversas desprovidas de qualquer outro objectivo que não de conhecer e dar a conhecer. Fala-se efectivamente de nós, dos outros e de enfermagem. Analisar estes conteúdos à posteriori era motivo para algumas páginas de análise.
À tarde mais uma aula de relação de ajuda e de processo de aconselhamento. Falou-se de transferência e contratransferência e identificação projectiva. À partida, pode dar a ideia que nada se avançou, pois já na última aula, tínhamos abordado esta temática. O que me parece é que agora estes temas estão muito melhor percebidos, pois foram utilizados exemplos em contexto de trabalho. Existe na turma um melhor aproveitamento destas aulas. A mim, sempre me fez confusão a educação bancária, prefiro sem duvida a educação problematizadora. Parece-me que é por este caminho que estamos a ir, o que me agrada verdadeiramente.
Ouvi nesta pós graduação no início, que ela é, aquilo que nós quisermos que ela seja. Até agora foi essa a linha que me guiou, a partir de agora, devido a sobrecarga do horário de trabalho, irá ser aquilo que o tempo deixar ser. Não que não irei pensar nas problemáticas analisadas, mas será que irei ter tempo de as escrever?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G. III


Hoje era um dia diferente, uma vez que só teria de entrar ás 11h30m. Teria hoje a primeira aula de supervisão de cuidados. Dois grupos, 10 estudantes, 2 professores. A expectativa era alta uma vez que pouco ou nada sabíamos sobre o que se iria passar. Tinham-nos dito que era como fazer teatro, mas mais nada tinham adiantado. Começámos então a construir o nosso átomo social, que consta em colocarmos os vários actores na nossa vida, neste caso, profissional em determinadas posições, perto, longe, virados para nós ou de costas para nós, consoante a proximidade das pessoas ou dos grupos profissionais. Neste primeiro exercício de representação de átomo social, foi definido que todos os estudantes iriam representar os seus contextos profissionais, no domínio das relações entre profissionais nas instituições em que trabalhamos.
Ao analisar o que se passou, há que realçar os sentimentos dos indivíduos que estavam a representar o seu átomo social pareciam vir à flor da pele. Notou-se algum nervosismo, quando tomávamos o lugar de quem colocávamos à nossa volta e dizíamos o que pensávamos, sobre a opinião que os outros têm de nós.
Pareceu-me interessante e mesmo terapêutico ver-me com os olhos dos outros. Notoriamente, conseguimos uma visão externa de nós. Olharmo-nos com os olhos do outro, é sem dúvida, uma visão privilegiada, pois permite que analisemos as relações de dois pontos de vista, o meu e o do outro. Mesmo que a visão do outro seja condicionada por aquilo que eu acho que ele pensa de mim. Pode, evidentemente, conter erros de avaliação mas, sem dúvida, pode ser um ponto de partida para nos conhecermos melhor e conhecermos melhor o outro.
Construí um átomo social, baseado no Serviço de Pneumologia. Pareceu-me fácil fazer esta construção uma vez que me parece claro a posição que ocupo no serviço, assim como as relações tenho com os diversos profissionais. No entanto, quando me foi pedido para me colocar na posição desses actores e dizer aquilo que eu acho que eles pensam de mim, já não foi tão claro.
Foi difícil, uma vez que senti que poderia ser injusto com uns e não muito rigoroso com outros. O que me pareceu que aconteceu, foi aquilo que eu acho que eles pensam de mim e não aquilo que na verdade eles pensam, pois provavelmente alguns nunca manifestaram, o que pensam sobre mim, assim como, eu também nunca lhes disse o que penso deles. O que me leva a pensar que, provavelmente, as relações menos conseguidas não são por falhas dos outros, mas também por algumas falhas minhas.
A aula da tarde era novamente sobre ética. Primeiro elegeu-se o representante da turma, foi um processo democrático e unânime, uma vez que o eleito nem estava presente.
Hoje o dia académico “in loco” é bastante reduzido, as aulas só começaram ás 15 horas. Cheguei à escola ainda não tinha ninguém chegado. Pouco a pouco, os colegas foram chegando. Falámos sobre as férias, sobre o tempo enfim sobre tudo aquilo que também faz parte de um início de relacionamento. Perguntei como iam as reflexões e os portfólios de dois colegas, inteirei-me das suas intenções.
Chegou o professor Joaquim com outro professor que nos apresentou. Começou a aula. Naquele início, senti frieza de relacionamento. Depois com o passar de alguns minutos correlacionei as parecenças morfológicas e de postura do professor com as de um actor conhecido, e sorri. Não sei se de propósito ou não mas aquela atitude entrou, fez despertar as nossas mentes, senti uma certa leveza no ambiente. O que é certo é que aquilo que nos estava a ser transmitido fazia todo o sentido. Falava-se de relação de ajuda e do processo de aconselhamento. Falava-se de conteúdo manifesto e latente, falava-se de dar sentido depois de ser pensado, de dar autonomia ao outro, de noção de limites, de actos e factos, de transferência e contra transferência, enfim falava-se de muita coisa que encaixavam umas nas outras e que faziam todo o sentido no processo de aconselhamento e também na relação de ajuda.
Sempre fui muito de paixões, sempre fui muito de empatias. Senti empatia por quem diz e pelo que foi dito. Senti que realmente teria muito a aprender. Espero com manifesta curiosidade para o que reserva ainda estas aulas.
Cheguei a casa e continuei as minhas pesquisas. Estou a “atacar” em várias frentes. Este diário, que penso que é o pilar das minhas reflexões pessoais, não por conter nada de muito cientifico com recurso a autores, mas é a partir de aqui que inicio estas pesquisas.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G. II


Cheguei à escola e tive a 1ª aula do dia, esta aula tinha como objectivo principal que aos estudantes manuseassem melhor o suporte informático, para poderem aceder à base de dados, de motores de busca de artigos científicos sobre a área da pós-graduação. Fiquei com a noção que iria utilizar pouco este suporte, uma vez que os artigos se apresentam na sua maioria em inglês. No entanto, estive com a maior atenção.
Quando esta aula acabou, fiquei sem nada para fazer, uma vez que só teria nova aula à tarde. Por isso, juntámo-nos alguns estudantes em redor de uma mesa e aproveitámos para nos conhecermos melhor. Foi então criado o e-mail da turma e falámos sobre as nossas experiências profissionais. Foi sem dúvida produtivo, pois, em redor da mesa estávamos uns seis enfermeiros, todos com percursos diferentes na enfermagem, como na vida. Confirmei aquilo que já tinha desconfiado. Era naquela mesa o único que ainda não tinha trabalhado em Psiquiatria. Também fiquei com a impressão que talvez isso não seria uma desvantagem, pois entraria de espírito aberto para este curso e tentaria aprender o mais possível com os colegas.
Chegaram as 15 horas. Sinceramente tenho que revelar que estava um pouco ansioso, sobre a aula que aí vinha. Íamos iniciar o módulo da ética. Foi como eu esperava, Justiça, Compaixão, Aristóteles, Nussbaum. Aí vamos nós, embarcando num pensamento crítico e escutando também as nossas consciências. No fim de 2 horas tinha acabado, mas já tinham passado 2 horas? Nem dei por isso. Mais uma vez fui para casa a pensar naquela aula e em como o trabalho já me esperava, muito para ler, muito para pensar, alguma coisa para escrever.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G.



Estava a caminho de Setúbal, sentia-me um pouco ansioso. Estava prestes a iniciar mais uma etapa na minha formação. Sinto-me entusiasmado, penso ter feito a escolha certa para o meu percurso profissional. È claro que não isento de riscos, estou a apostar numa área para a qual não tenho formação prévia específica. Por outro lado sinto que é um desafio ás minhas capacidades. A área da Saúde Mental é sem dúvida motivante, não deixando de ser desconcertante, isto se pensarmos na área que a partir de agora vai passar ser o meu foco de interesse. Desde o meu curso base, que me despertou interesse esta área, sem no entanto ter investido nela. Sinto por isso, que este desejo esteve a amadurecer, como se estivesse a hibernar durante estes anos.
Cheguei à escola, estava a começar a apresentação do curso. O auditório estava cheio. Foi com interesse que acompanhei a exposição do professor. Sentia-me em casa. Voltava a ver rostos conhecidos que, há 3 anos atrás, me fizeram ver a profissão de uma outra forma. Por outro lado, foi aquela equipa de docentes que ajudou a conhecer-me melhor e a acreditar que consigo, mesmo com bastante esforço pessoal, atingir os objectivos a que me proponho.
Chegou a hora de falar a professora Lucília Nunes. Nada mudou, está ainda mais desconcertante e motivadora. Sorri para mim mesmo, quando me lembrei daquelas aulas de ética, de como tentava “desfragmentar” aquelas aulas durante uma semana tentando reflectir sobre o que tinha sido falado.
Nas pausas, tentava vislumbrar alguns rostos conhecidos que pudessem estar na mesma situação que eu.
NADA.
No meio de tanta gente não vi ninguém conhecido. No final da cerimónia encontrei alguém conhecido, outro e outro. Á pergunta para onde entraste, a resposta era a invariavelmente a mesma, vou para a Pós Graduação Médico-Cirúrgica. Ou era para o elenco A ou B.
Saúde Mental, nada.
Mais tarde, os estudantes da Pós Graduação de Saúde Mental reuniram-se então. Descortinei duas ou três caras conhecidas, que em tempos partilhámos o tempo, neste ou naquele serviço onde trabalhei.
Entrámos.
O professor apresentou a pós graduação. Mais uma vez tive a sensação de um “dejá-vu”, só que desta vez não se falava de lagartos e dinossauros, mas sim do que nos espera no próximo ano lectivo, quiçá com sorte, no próximo ano e meio.
As “hostilidades” começaram. Iniciaram-se as aulas. Começou-se a debater as nossas visões sobre a relação de ajuda. Principalmente fez-se um enunciado sobre o que a turma quer aprender.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ética - Filme

Nota - Este filme foi montado, utilizando dois filmes existentes no youtube.

Ética - Filme

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Direitos dos Doentes na Lei da Saúde Mental



Doença mental é definida por Townsend (2002, p.15), como uma “resposta desajustada a factores de stress do ambiente interno ou externo, evidenciada por pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são congruentes com as normas locais e culturais e interferem no funcionamento social, ocupacional e/ou físico do individuo”.
Captron (et al) no prefácio do Livro de recursos da OMS sobre Saúde Mental, indica que “ a legislação pode ser utilizada para garantir mais recursos para a saúde mental, melhorar os direitos e os padrões e condições de saúde mental em um país”.
Os indivíduos com doença mental têm na lei Portuguesa direitos que lhe são conferidos pela lei da Saúde Mental (lei nº 36/98, de 24 de Julho). Assim, segundo esta lei “a protecção da saúde mental efectiva-se através de medidas que contribuam para assegurar ou restabelecer o equilíbrio psíquico dos indivíduos, para favorecer o desenvolvimento das capacidades envolvidas na construção da personalidade e para promover a sua integração critica no meio social onde vive”.
Nesta lei existem alguns direitos que estão bastante vincados, são eles o direito à informação, o direito ao tratamento, o direito à dignidade e o direito a estar em contacto com a família.
Relativamente ao direito à informação, segundo o artigo 5º, alínea 1, os doentes têm direito a serem informados dos seus direitos e do tratamento que lhes vai ser efectuado.
A alínea (d) e (e) centram-se no direito do doente dar ou recusar consentimento relativamente à terapêutica e tratamentos. Trata-se de consentimento informado, assim sendo, o doente deve compreender o tratamento, na perspectiva de resultados e efeitos da recusa.
A alínea (f) assenta na manutenção da dignidade, uma vez que versa sobre condições de habitabilidade, higiene, segurança, alimentação, respeito e privacidade.
A alínea (g) respeita o direito a visitas, podendo o doente ser visitado por quem desejar.
O princípio subjacente à lei da saúde mental é o da Não-Maleficência. Este princípio propõe a obrigação de não infligir dano intencional. O doente de Saúde Mental, devido à sua situação clínica encontra-se numa situação de bastante vulnerabilidade. Pode-se considerar uma pessoa vulnerável quando um indivíduo se encontra numa situação de desigualdade relativamente à sociedade envolvente, por exemplo por motivos de saúde. Esta desigualdade faz com que estes indivíduos se sintam menos capazes de, pelo menos, expressar livremente a sua vontade. O que se pretende é que este indivíduo desenvolva o Princípio de Autonomia. Uma pessoa autónoma, é capaz de decidir sobre os seus objectivos pessoais e agir na direcção dessa decisão. Uma vez que a doença mental compromete a autonomia, assim como a institucionalização, compete aos profissionais de saúde respeitar essa autonomia, pois assim, valorizam as opiniões e as escolhas da pessoa que se encontra num momento delicado da sua vida.
Depois do Principio da Não-Maleficência estar definido na lei de Saúde Mental, também o Principio de Beneficência está implícito, este princípio estabelece que devemos fazer o bem aos outros, independentemente de desejá-lo ou não. Townsend (2002, p.741) indica que. “a beneficência refere-se ao dever da pessoa de beneficiar ou promover o bem dos outros”, e, “ o dever de respeitar a autonomia de uma pessoa pode ser sobreposto quando se julga que uma pessoa pode ser danosa para si própria e para os outros”. Acima de tudo, a lei estabelece o respeito à pessoa com doença mental. Estabelece uma norma para evitar a discriminação do indivíduo, que está internado por vontade própria ou não. Taylor (1992, p.18) caracteriza internamento voluntário como “baixa e alta do indivíduo via própria assinatura”, enquanto que internamento compulsivo “é feito por alguém outro do que o próprio doente”, devido a, e como refere Neeb (2000,p.51), “comportamentos que os tornam potencialmente perigosos para si ou para os outros”.
Quanto ao papel que o enfermeiro deve ter em relação ao doente de saúde mental, consiste em respeitar o princípio da Não-Maleficência, pois em primeiro lugar parece-me que a atitude perante este doente é não piorar a situação dele e depois reger-se pelo princípio da Beneficência.
Relativamente ao papel que o enfermeiro deve desempenhar no que concerne aos direitos dos doentes contemplados na lei de saúde mental, o profissional deve reger-se pela veracidade. O doente de saúde mental apesar de estar internado numa instituição deverá ser informado dos seus direitos. Neeb (2000, p.56) refere que o enfermeiro deve explicar “ao doente o significado desses direitos”. No que concerne aos direitos (d) e (e), os enfermeiros devem, segundo Neeb (2000, p.53), “reforçar as explicações dadas pelo médico, sobre o tratamento”, averiguar se o doente entendeu todas as explicações relativamente ao tratamento e o que poderá advir da recusa do tratamento. Quanto ao direito da alínea (g) o enfermeiro deve, no entender de Neeb (2000, p.54), “verificar, no momento da admissão quem visitará regularmente o doente” tendo a preocupação de questionar o doente e a família se existe alguma visita que possa ser indesejada, por motivos de segurança. Há que ocasionalmente, segundo Neeb, registar rigorosamente o estado físico e emocional do doente após a visita.
Outro dos pontos que me apraz verificar na lei de Saúde Mental é que, sem dúvida, existe uma melhor defesa dos direitos dos doentes no que concerne ao internamento compulsivo.
Segundo a Lei nº 36/98 de 24/07 relativamente ao internamento compulsivo regulamentado pelo capítulo III, considera que o internamento compulsivo é um internamento por decisão judicial do portador de anomalia psíquica grave. O artigo 8º determina que “o internamento compulsivo só pode ser determinado quando for a única forma de garantir a submissão a tratamento do internado e finda logo que cessem os fundamentos que lhe deram causa”, está então nesta alínea definido, que o internamento compulsivo não poderá ser efectuado sem outro objectivo de tratar algum problema grave específico durante um período de tempo limitado. Na linha 3 este artigo refere que, “ sempre que possível o internamento é substituído por tratamento em regime de ambulatório”, esta ressalva no artigo permite que a situação quando não apresentar maior gravidade, possa ser acompanhada em regime ambulatório, o que reforça o regime de excepção do internamento compulsivo. Este internamento compulsivo só pode ser efectuado com autorização judicial. Mesmo que haja vontade médica pois, também a Declaração Universal dos Direitos do Homem no seu artigo 9º exige que, “ninguém pode ser arbitrariamente preso detido ou exilado”.
Cabral refere que o internamento compulsivo encontra fundamento, na perigosidade que o indivíduo, portador de doença psíquica grave, representa para a sociedade. No entanto, nesta circunstancia algumas premissas têm que ser respeitadas e sem probabilidade de serem violadas, uma vez que o artigo 1º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia refere que a “dignidade do ser humano é inviolável. Deve ser respeitada e protegida”. A mesma Carta refere no artigo 6º que “todas as pessoas têm direito à liberdade e à segurança”, no internamento compulsivo apesar de o direito à liberdade estar em causa, é no direito à segurança que este internamento pode ser posicionado, segurança esta, tanto do próprio doente como daqueles que o rodeiam. No entanto, a mesma carta indica no capítulo III artigo 21º que, “é proibida a discriminação” e no artigo 26º, “ reconhece e respeita o direito das pessoas com deficiência a beneficiarem de medidas destinadas a assegurar a sua autonomia, a sua integração social e profissional e a sua participação na vida da comunidade”.
Por tudo isto, internamento compulsivo deve ser aplicado somente em casos especiais e justificáveis e, deverá ter o seu termo logo que cessem os fundamentos que lhe deram causa, já que também a Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes de 09/12/75 indica que, “as pessoas com deficiência têm o direito de viver com as suas famílias”.

domingo, 14 de outubro de 2007

Cuidados Continuados Psiquiátricos.Será que é desta?


Entende-se por cuidados continuados, segundo o Ministério da Saúde, Sub-região de Saúde de Lisboa (1999, p. 2), “todos os cuidados prestados, pela saúde independentemente dos dias de prestação”
Prestar cuidados de enfermagem no domicílio permite uma percepção global de toda a família e de toda a sua dinâmica. Possibilita ao enfermeiro identificar recursos/necessidades e a partir daí planear a sua intervenção. Sendo assim, deve criar uma relação abrangente com a família e não só com o utente, para que também a envolvência da família enquanto cuidadora seja valorizada.
Como nos diz Chinoy (1993, p.231), “Quando forças externas destroem práticas tradicionais ou papéis e relações estabelecidas, tendem a ocorrer mudanças estruturais à proporção que os membros da família se adaptam às novas situações”. Assim, os cuidados continuados domiciliários têm como principal função dar continuidade aos cuidados de saúde necessários ao utente, muitas vezes iniciados no hospital e que, depois da alta são prolongados no domicílio. Com um atendimento domiciliário adequado, a família ganha progressivamente uma confiança na capacidade de cuidar do utente e na sua organização interna, de forma a integrar a situação de doença no seu funcionamento e uma vez que, segundo o relatório da OMS (2001, p. 102), “As famílias desempenham papel chave na atenção dos doentes mentais. As responsabilidades estão a ser transferidas para as famílias. Estas podem ter impacto positivo ou negativo em função da sua compreensão, conhecimento, aptidões e capacidade de dar atenção às pessoas afectadas por transtornos mentais. Uma importante estratégia baseada na comunidade é ajudar as famílias a compreender as doenças, estimular a adesão à medicação, reconhecer os primeiros sinais de recorrência e assegurar a pronta resolução de crises. Isso resultará numa recuperação melhor e reduzirá a incapacidade social e pessoal. Enfermeiros que trabalhem em cuidados continuados e outros trabalhadores em saúde podem desempenhar importante função de apoio, assim como o podem fazer as redes de grupos de ajuda mútua para as famílias”.
Perante a alta do utente dependente, a família suporta um esforço imenso para cuidar dele e esta é a realidade mais difícil e mais dura de enfrentar, porque desconhece os cuidados e técnicas necessárias para cuidar do utente e, por outro lado, existe o medo de errar na sua assistência. Quando os cuidados são prestados no domicílio o utente cria confiança porque está no seu meio familiar e, por outro lado, a presença dos técnicos facilita a aceitação da família face à doença. Assim, parece-me evidente a necessidade que os doentes com perturbações mentais e as suas famílias, têm de cuidados continuados para atenuar as alterações a que estão sujeitos e ajudar a que estas famílias não entrem num processo de desagregação.
O enfermeiro assume aqui um papel de terapeuta familiar, segundo Townsend (2000, p. 135), “ o individuo tanto contribui para os estresses na família como responde a eles”. Logo, o objectivo do enfermeiro que desempenhe funções de cuidados continuados a famílias com doentes com perturbações mentais deve, segundo Townsend (2000, p. 136), “facilitar a mudança na estrutura familiar”, com para uma melhor adaptação. Para isso o enfermeiro tem um papel de integrador da família, devendo-se unir à família para que possa haver reestruturação. È necessário também haver uma avaliação da estrutura familiar uma vez que a família do doente com perturbações mentais é segundo Townsend também ela uma família problemática. Nesta avaliação analisam-se, como afirma Townsend (2000, p. 136), “os padrões transicionais, a flexibilidade e o potencial de mudanças do sistema, limites e estágio de desenvolvimento da família e o papel do paciente identificado no sistema”. O passo seguinte do enfermeiro será, reestruturar a família, estabelecendo uma aliança, tornando-se parte dessa mesma família, podendo manipular o sistema e facilitar as circunstâncias para permitir mudanças estruturais. È também, papel do enfermeiro segundo Taylor (1992, p. 409), “ ajudar na resolução de conflitos patológicos e ansiedade; dar condições de o paciente lutar contra forças destrutivas, tanto dentro de si mesmo quanto dentro da família; fortalecer a família contra perturbações criticas e influenciar a identidade familiar e de seus valores próprios, no sentido de formar um ambiente saudável”.
Com a criação de serviços de cuidados continuados de apoio a doentes com perturbações mentais e às suas famílias, atendia-se as seguintes recomendações do relatório sobre saúde no mundo. Saúde mental: nova concepção, nova esperança, 2001:
Proporcionar atenção na comunidade
“A atenção baseada na comunidade tem melhor efeito sobre o resultado e a qualidade da vida das pessoas com transtornos mentais crónicos do que o tratamento institucional. (...), os serviços de saúde mental devem ser prestados na comunidade, fazendo uso de todos os recursos disponíveis. Os grandes hospitais psiquiátricos de tipo carcerário devem ser substituídos por serviços de atenção na comunidade, apoiados por leitos psiquiátricos em hospitais gerais e atenção domiciliar que atenda a todas as necessidades dos doentes que eram de responsabilidade daqueles hospitais.” (p. 113);

2. Educar o público
“Devem ser lançadas em todos os países campanhas de educação e sensibilização do público sobre a saúde mental.” (p. 113);

3. Envolver as comunidades, as famílias e os usuários
“As comunidades, as famílias e os usuários devem ser incluídos na formulação e na tomada de decisões sobre políticas, programas e serviços.” (p. 113);
7. Preparar os recursos humanos
“Aumentar e aprimorar a formação de profissionais para a saúde mental, que darão atenção especializada e apoiarão programas de atenção primária de saúde.” (p. 113);
8. Formar Vínculos com outros sectores
“Outros sectores além do da saúde, como educação, trabalho, previdência social e direito, bem como certas organizações não-governamentais, devem ter participação na melhoria da saúde mental das comunidades”. (p. 114);
9. Monitorizar a saúde mental na comunidade
“A saúde mental das comunidades deve ser monitorizada mediante a inclusão de indicadores de saúde mental nos sistemas de informação e notificação sobre saúde. Os indicadores devem incluir tanto o número de indivíduos com transtornos mentais e a qualidade da atenção que recebem como algumas medidas mais gerais da saúde mental das comunidades.” (p. 114);

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

voltando a falar de formação

A Educação “bancária” que Freire descreve, o Modelo Escolar de Nóvoa parece-me ir já bastante longe, quando se fala de autoformação. A autoformação é um processo formativo que atribui a cada um de nós um lugar central no próprio processo de formação de cada um. O indivíduo quando se (auto) forma inclui toda a sua vida, aproveitando as experiências pessoais e profissionais.
Lembro-me da metáfora do retrovisor, quando conduzimos olhamos para a frente. Mas por vezes quando necessário, olhamos para o retrovisor para nos orientarmos, para olharmos para o caminho percorrido para um ou para outro obstáculo que enfrentámos. No entanto, depois olhamos para a frente e continuamos o nosso caminho.
Num processo de autoformação é isso que o indivíduo tem que fazer, olhar para trás, reflectir nas experiências vividas e utilizá-las para resolver problemas futuros. Esta aprendizagem só é possível se utilizarmos as nossas histórias de vida e as experiências formadoras nelas contidas.
Por vezes em contexto de trabalho, quando acontece algo de novo, mobilizamos todos os nossos conhecimentos, não só os que um percurso académico pode fornecer, mas também outro tipo de experiências. Quando estas situações são analisadas concluímos que “foi uma experiência muito proveitosa…” ou “ foi muito educativo para todos nós…”. É nesta linha da experiência e da educação que procuramos e encontramos a autoformação.
Um indivíduo apesar de ser uno, não é só. Como tal, coexiste em sociedade e com o meio que o rodeia. A formação do indivíduo não está somente dependente do seu eu, mas também é influenciada pelos outros e pelos estímulos das coisas que o rodeiam.
Canário, nas suas obras faz alusão ás necessidades de formação. Destaca que as necessidades de formação de um indivíduo não são obrigatoriamente as dos outros indivíduos pertencentes ao grupo.
Quando se fala em necessidades, ou no método da sua recolha, subsiste uma extensa variedade de abordagens, que de algum modo dificultam a sua cientificidade. Várias são as tipologias apresentadas por diversos autores acerca da palavra necessidade.
Na linguagem corrente, ela assume duas conotações: uma objectiva e constrangedora, e porque inevitável tem uma existência objectiva, e uma subjectiva, que resulta de um sentimento pessoal de uma certa exigência, tal como refere Canário, também Barbier e Lesne indicam que (1977, p.20) “não é possível constatar necessidades objectivas”; a vida social não confere à observação científica, objectos que se possam considerar necessidades objectivas, a não ser aquelas (ex. exigências alimentares), que se revestem de uma força social particular. O que realmente existe são expressões de necessidades formuladas por diversos agentes sociais, muitíssimo variadas não só em relação ao seu conteúdo como ao modo como se manifestam.
O processo de expressão de uma necessidade, segundo Barbier e Lesne (1977), constitui uma prática, devendo ser analisada como tal e como outro qualquer objecto das ciências sociais. Este permite alcançar um produto especifico, que mais não são que os objectivos pela acção dos indivíduos e pelos grupos, sendo assim, um processo de transformação. Ainda e segundo os mesmos, toda a expressão de necessidades é uma expressão de necessidades em situação; esta é criada, quer por constrangimentos profissionais (ex. promoções), quer por constrangimentos institucionais (ex. aquisição de diplomas), quer ainda por constrangimentos pedagógicos (ex. aquisição de conhecimentos). Todos eles, evoluem de acordo com o desenvolvimento social, o que por sua vez, faz evoluir também as expressões de necessidades.
Em certos aspectos exprimir uma necessidade é retraduzir num certo campo de constrangimentos, os objectivos anteriormente produzidos em outros campos. Todo este processo encontra-se ligado a um grande número de actores sociais que nele podem intervir (ex. direcções de empresas, hierarquias...), podendo neles persistir objectivos, interesses e necessidades completamente diferentes. O facto de as necessidades exprimirem desígnios individuais e/ou colectivos significa, que num mesmo indivíduo, grupo ou sistema, possam persistir necessidades antagónicas e conflituais, apelando assim, para “práticas de negociação e concertação” de perspectivas de ambos os lados.
Quantas vezes nos hospitais onde trabalhei, se fez e continua a fazer o levantamento anual das necessidades de formação. O responsável da formação apresenta um questionário onde os enfermeiros colocam as suas necessidades formativas. Por fim, são apresentados os resultados e a multiplicidade de temas a abordar é alarmante. Não raras vezes que no fim do ano apenas uma ínfima parte é abordada, por falta de tempo, de motivação, etc.
Quantos enfermeiros contestam que as suas necessidades formativas não foram satisfeitas e frequentaram outras formações que não lhes proveu qualquer novo conhecimento.