sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dias de uma P.G. VII

Já há duas semanas que não ia às aulas. Uma semana por motivos profissionais e outra porque fiquei apeado na auto-estrada, sem carro, que resolveu avariar, infelizmente, para sempre. Coisas que acontecem.
Recebi ontem a noticia que vou participar na abertura do Serviço de Psiquiatria do Hospital Garcia de Orta.
Hoje, o dia de aulas foi sem dúvida um dia produtivo. Eu e mais dois estudantes da Pós-Graduação apresentámos o que já tínhamos feito relativamente ao portfólio. As minhas dúvidas dissiparam-se, os meus receios afinal não têm razão de ser. Vejo que estou no bom caminho e na minha opinião a produzir trabalho que é válido na aprendizagem das temáticas da saúde mental. Apresentei o meu filme “você aprende”, sobre mim e sobre os meus gostos, sobre como vejo a vida. Este filme é feito com fotografias minhas, imagens que gostei e excertos de filmes que me marcaram nas diferentes etapas da minha vida. Apresentei também a estrutura do meu portfólio.
Na aula da tarde, técnicas expressivas, fizemos exercícios de dinâmicas de grupo. Foi sem dúvida excepcional. Conversei com colegas com os quais ainda não tinha conversado, já que a dinâmica incidia muito sobre a confiança. Penso que estas dinâmicas podem ser bastante úteis no meu serviço, uma vez que, também nós não nos conhecemos.
Estas dinâmicas, podem ser úteis em grupos que necessitem de adquirir confiança entre os membros, assim como, permite uma maior auto-confiança do indivíduo. Promove o trabalho em equipa e estimula a entreajuda.
Cada vez mais me sinto motivado para aprender mais sobre estas técnicas, para poder executá-las não só nos profissionais do meu serviço, assim como, nos nossos doentes.
Há hora do pequeno-almoço, tive a oportunidade de trocar algumas impressões sobre o portfólio, sobre o meu e dos outros. O meu ficou parado por uns dias, uma vez que estou a elaborar normas e um trabalho de pesquisa sobre as doenças psiquiátricas mais comuns, uma vez que estou a abrir o Serviço de Psiquiatria no Hospital Garcia de Orta. Talvez o portfólio não esteja mesmo parado, uma vez que estou a trabalhar para compreender melhor as patologias do doente psiquiátrico. Esta mudança não está a ser fácil. Primeiro, as despedidas do Serviço de Pneumologia. Pessoas que muito gosto e com quem partilhei espaços e tempos de vida, vão deixar de estar em convívio diário comigo. Lá estou eu a fazer analogias entre as despedidas e a morte. Segundo, por entrar num novo serviço que me pode oferecer novas oportunidades, como diz Francis Bacon “ O homem deve criar as oportunidades e não somente encontrá-las”. A ver vamos, mas começo a claudicar, devido a algum cansaço acumulado. Espero recuperar as energias, pois o mês de Julho parece ser intenso e ainda tenho muito que pesquisar e escrever para o portfólio.
Sinto-me em falta para com as colegas que partilharam comigo as histórias de vida. O primeiro semestre da Pós Graduação está a terminar, o portfólio está por acabar e o trabalho nos meus dois hospitais mantém-se, pelo que será necessário fazer opções, mesmo que me apeteça muito estar em todo lado, é humanamente impossível. Resolvi não ir à aula da manhã.
Fui então, depois de um sono reparador depois de uma saída de vela, à aula da tarde. Depois de efectuarmos o ritual das mesas e cadeiras e do aquecimento, a aula de técnicas expressivas hoje debruçou-se sobre pintura, comunicação expressiva de emoções através do desenho. A temática do desenho era simples, desenhar sobre um sonho recorrente na nossa vida. Se a temática era simples, a tarefa pareceu-me mais complicada, pois escolher de entre muitos sonhos que me incomodaram, ou que realmente me fizeram feliz, não é fácil.
Resolvi desenhar, sobre um sonho que tive várias vezes, quando era adolescente. Chamo-lhe, o “pânico das portas”. O medo de chegar atrasado ao um teste na escola, provoca sonhos que definitivamente nos incomodam. A ansiedade e a insegurança instala-se quando queremos bater a todas as portas e nunca encontramos, a porta certa, para cumprir as nossas tarefas.
Quantas vezes na vida também não sentimos estas angústias por não sabermos a que porta bater para seguirmos em frente, ou, quantas vezes não nos depararmos com várias alternativas e sentimo-nos indecisos sobre o caminho a seguir.
A tarefa seguinte foi explicarmos os nossos desenhos, mais uma vez fui o primeiro a fazê-lo, afinal é sempre necessário alguém para quebrar o gelo, para se continuar a aula. Foi extremamente divertido, embora, a brincar se fale de coisas sérias.
Só tenho pena destas aulas estarem a terminar. Além de serem aliciantes, servem também para nos mostrar o potencial terapêutico destas técnicas. Para mim, pelo menos, sinto que é terapêutico, pois sinto-me mais relaxado, mais confiante e no grupo encontro elos mais fortes, dada a partilha que fazemos nestas aulas.

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