sábado, 27 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G. IV



Hoje é um dia em cheio, temos todo o dia aulas. Sinto-me um pouco cansado, dezasseis horas de trabalho todos os dias têm-me feito vacilar um pouco, e toldam-me um pouco o raciocínio. Introduzimos o estágio na P.G.
Foi definido o que era pretendido na construção do portefólio. Fiquei um pouco desiludido, pois a ideia que já tinha em mente para construir o meu portefólio já não é exequível, uma vez que tem de ser construído em suporte informático. Mas como tudo na vida, construir, reconstruir faz parte dos processos de formação e de crescimento pessoal, terei que me debruçar mais tarde sob a forma como irei apresentar a minha aprendizagem.
Foi mais tarde introduzido mais um módulo de Saúde Mental e Comunitária. Foi uma aula de exploração. Primeiro tentámos apontar a característica mais importante em nós. Curioso, perseverante, dinâmico, justo, persistente, verdadeiro e exigente, foram algumas das características que definiam o maior número de estudantes. Estas características, revejo-as nas capacidades e nas virtudes que o enfermeiro deve ter, eram estas, as características atribuídas à turma.
Há tarde, mais uma aula de ética. Desta vez estávamos a PG de saúde mental, e a PG de Médico-cirúrgica Urgência/Emergência. Falou-se de autonomia vs vulnerabilidade. De quanto mais autónomo o doente se encontra, menos vulnerável se sente e vice-versa. Senti que, cada vez mais estas questões fazem mais sentido, uma vez que perfeitamente se enquadram na minha experiência.
Vem de encontro aquilo que defendo desde sempre, que o paternalismo/maternalismo, que por vezes se quer fazer passar como bons cuidados de enfermagem, não passam de uma maneira de manter a vulnerabilidade do doente e consequentemente a sua dependência. Promover a autonomia é sem dúvida, o objectivo final dos cuidados de enfermagem.
A cada dia que passa sinto-me mais motivado. Iniciou-se hoje mais um módulo da P.G., Narrativas de Vida. Há alguns anos apliquei esta metodologia de formação e realmente, é um domínio de bastante interesse e que se enquadra naquilo que realmente penso sobre formação. Não só em termos formativos é benéfico, como também, em termos da nossa saúde mental adquire uma importância fundamental. Contarmo-nos e escrevermo-nos é um exercício, que encerra em si, uma construção interior para quem o consegue fazer. Sem duvida, que um povo só cresce quando tem consciência da sua própria história. Não se refugia em medos e preconceitos, mas a enfrenta, a encara e a enaltece, nos seus domínios positivos e negativos. Aproveita os positivos para continuar, analisa os negativos para melhorar. Penso que as narrativas de vida também contêm este processo de crescimento pessoal.
A aula foi introdutória, mas já se vislumbrou por que caminhos, pode enveredar. Falámos de narrativas de vida e de “empowerment”, onde na nossa história de vida tivemos perante a situação de dar poder ou ter o poder de decidir sobre a nossa vida.
A hora de almoço mais uma vez foi um momento de conhecimento dos colegas, das experiências, das expectativas. È sempre um momento formativo, estas conversas desprovidas de qualquer outro objectivo que não de conhecer e dar a conhecer. Fala-se efectivamente de nós, dos outros e de enfermagem. Analisar estes conteúdos à posteriori era motivo para algumas páginas de análise.
À tarde mais uma aula de relação de ajuda e de processo de aconselhamento. Falou-se de transferência e contratransferência e identificação projectiva. À partida, pode dar a ideia que nada se avançou, pois já na última aula, tínhamos abordado esta temática. O que me parece é que agora estes temas estão muito melhor percebidos, pois foram utilizados exemplos em contexto de trabalho. Existe na turma um melhor aproveitamento destas aulas. A mim, sempre me fez confusão a educação bancária, prefiro sem duvida a educação problematizadora. Parece-me que é por este caminho que estamos a ir, o que me agrada verdadeiramente.
Ouvi nesta pós graduação no início, que ela é, aquilo que nós quisermos que ela seja. Até agora foi essa a linha que me guiou, a partir de agora, devido a sobrecarga do horário de trabalho, irá ser aquilo que o tempo deixar ser. Não que não irei pensar nas problemáticas analisadas, mas será que irei ter tempo de as escrever?

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