quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Técnicas Expressivas


Quando se aplicam técnicas expressivas, o doente é acima de tudo estimulado a criar competências que lhe permitirão viver a sua vida de uma forma mais útil e satisfatória.
Relativamente ao doente com perturbações mentais o principal objectivo é a sua reabilitação psicossocial. O grande desafio como nos diz Pires (2006¸ p. 7) “o grande desafio que todo o ser humano enfrenta em situação de crise é o desafio da transcendência comprometida ao poder do eu impessoal, para se libertar dos sentimentos de pena para com nós próprios, medo e raiva que embora reais, são extremamente improdutivos”. Neste âmbito o enfermeiro tem um papel de terapeuta e acima de tudo de dinamizador da relação do doente com ele próprio, com a família, com o meio e com a sociedade. Este papel de dinamizador assume uma importância fundamental no processo terapêutico do doente uma vez que, por vezes, tem que se mobilizar as competências do doente adquiridas ao longo da sua vida, como fundamenta Pires (2006, p.9) “ o enfermeiro não se centra na doença e ajuda a procurar nesse passado, presente e futuro, o sentido e a energia para ultrapassar a situação”.
Para isso o enfermeiro pode, quando preparado, recorrer à psicoterapia. Psicoterapia é um processo de descoberta da realidade única em cada indivíduo. Cada pessoa constitui um mapa de vivências e percepções que pode ser alterado através da observação e avaliação das suas experiências. Os objectivos da psicoterapia segundo Neeb (2000, p. 151) prendem-se com
1. “Diminuir o desconforto emocional do doente.”
2. “Melhorar o funcionamento social do doente.”
3. “Aumentar as competências do doente para agir ou manter um desempenho apropriado a cada situação.”
Há então uma preocupação como nos diz Neeb (2000, p.151) de estimular “novas competências que conduzam a comportamentos de coping, uma atitude facilitadora de insight relativamente aos seus problemas”.
Uma das técnicas que podem ser utilizadas é o jogo. Elkonin (1998, p.164) caracterizando o jogo “assinala a sua propriedade dinâmica fundamental, a qual consiste em que, por uma parte, trata com fenómenos relativos ao nível da realidade, no sentido de que são acessíveis à observação de indivíduos não interessados, (…), e, por outra, em que está muito menos relacionada com as leis da realidade do que o comportamento em outra esfera que não seja lúdica”. O jogo assume assim o papel de uma ferramenta importante na reabilitação do doente, uma vez que podem investigar-se alguns problemas do movimento da esfera afectiva, mesmo sabendo que o jogo está na esfera da realidade. Apesar de tudo, o jogo não é irreal como nos diz Elkonin (1998, p.167) “ por isso tem a rigidez própria da realidade”. São muitas vezes utilizados jogos psicológicos em grupos, estes, tem como objectivo fundamental, como nos diz Manes (2007, p. 6) “ é proporcionar aos participantes uma experiência particular de aprendizagem”, fornecendo assim, “um nível base de estimulação capaz de activar processos que permitem a tomada de consciência das dimensões intrapsiquícas e relacionais do funcionamento humano”, facilitando, assim, alteração do modo de pensar, sentir e relacionar-se com o meio. Manes acrescenta ainda que “ em grupo é possível, então, trabalhar e estimular, (…), três dimensões do funcionamento psicológico humano: a dimensão emotivo-afectiva, a dimensão cognitiva e a dimensão experiencial” (p.6).
Quando se programa uma dinâmica de grupo, deve-se ter em conta o grupo que está perante nós. Sem dúvida que quanto mais heterogéneo o grupo for mais produtiva será essa dinâmica, no entanto, parece-me que há que ter em conta as pessoas e o seu estado de saúde. Por exemplo quando se programa um psicodrama, e temos um grupo onde predominam pessoas com síndromes depressivos, o animador dessas sessões deve ter em conta que, como refere Vieira (1999, p. 30), “como o individuo inibe a sua espontaneidade, interligando falsos papeis rígidos e estereotipados”, pretende-se assim, “ quebrar a rigidez através do libertar da espontaneidade e da criatividade encarcerada na carapaça depressiva”. É importante desde logo, segundo Vieira (1999) permitir que o grupo acompanhe o doente desde o início e fomentar a coesão do grupo para permitir aumentar a auto-estima. Deve-se utilizar a técnica de do espelho ou o jogo da representação de papéis (p.31),
Se por exemplo, no grupo, predominar elementos com perturbação de ansiedade o objectivo será aumentar o empowerment como refere Vieira (1999). Assim poder-se-á abordar o grupo utilizando técnicas de relaxamento (p.17).
Se o grupo tiver predominância de elementos psicóticos deve o profissional ter em conta que, como nos diz Vieira (1999, p. 132) “ o psicótico começa geralmente por desconfiar do que lhe é proposto dramatizar”, por isso o mesmo autor aconselha a técnica de substituição de papel, ou a técnica do espelho.
Há que referir que para se aplicar estas técnicas há que as dominar convenientemente, pois parece-me que se for para as fazer mal, mais vale não as fazer sob pena de contribuir para um aumento da ansiedade dos doentes do grupo.

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