domingo, 14 de outubro de 2007

Cuidados Continuados Psiquiátricos.Será que é desta?


Entende-se por cuidados continuados, segundo o Ministério da Saúde, Sub-região de Saúde de Lisboa (1999, p. 2), “todos os cuidados prestados, pela saúde independentemente dos dias de prestação”
Prestar cuidados de enfermagem no domicílio permite uma percepção global de toda a família e de toda a sua dinâmica. Possibilita ao enfermeiro identificar recursos/necessidades e a partir daí planear a sua intervenção. Sendo assim, deve criar uma relação abrangente com a família e não só com o utente, para que também a envolvência da família enquanto cuidadora seja valorizada.
Como nos diz Chinoy (1993, p.231), “Quando forças externas destroem práticas tradicionais ou papéis e relações estabelecidas, tendem a ocorrer mudanças estruturais à proporção que os membros da família se adaptam às novas situações”. Assim, os cuidados continuados domiciliários têm como principal função dar continuidade aos cuidados de saúde necessários ao utente, muitas vezes iniciados no hospital e que, depois da alta são prolongados no domicílio. Com um atendimento domiciliário adequado, a família ganha progressivamente uma confiança na capacidade de cuidar do utente e na sua organização interna, de forma a integrar a situação de doença no seu funcionamento e uma vez que, segundo o relatório da OMS (2001, p. 102), “As famílias desempenham papel chave na atenção dos doentes mentais. As responsabilidades estão a ser transferidas para as famílias. Estas podem ter impacto positivo ou negativo em função da sua compreensão, conhecimento, aptidões e capacidade de dar atenção às pessoas afectadas por transtornos mentais. Uma importante estratégia baseada na comunidade é ajudar as famílias a compreender as doenças, estimular a adesão à medicação, reconhecer os primeiros sinais de recorrência e assegurar a pronta resolução de crises. Isso resultará numa recuperação melhor e reduzirá a incapacidade social e pessoal. Enfermeiros que trabalhem em cuidados continuados e outros trabalhadores em saúde podem desempenhar importante função de apoio, assim como o podem fazer as redes de grupos de ajuda mútua para as famílias”.
Perante a alta do utente dependente, a família suporta um esforço imenso para cuidar dele e esta é a realidade mais difícil e mais dura de enfrentar, porque desconhece os cuidados e técnicas necessárias para cuidar do utente e, por outro lado, existe o medo de errar na sua assistência. Quando os cuidados são prestados no domicílio o utente cria confiança porque está no seu meio familiar e, por outro lado, a presença dos técnicos facilita a aceitação da família face à doença. Assim, parece-me evidente a necessidade que os doentes com perturbações mentais e as suas famílias, têm de cuidados continuados para atenuar as alterações a que estão sujeitos e ajudar a que estas famílias não entrem num processo de desagregação.
O enfermeiro assume aqui um papel de terapeuta familiar, segundo Townsend (2000, p. 135), “ o individuo tanto contribui para os estresses na família como responde a eles”. Logo, o objectivo do enfermeiro que desempenhe funções de cuidados continuados a famílias com doentes com perturbações mentais deve, segundo Townsend (2000, p. 136), “facilitar a mudança na estrutura familiar”, com para uma melhor adaptação. Para isso o enfermeiro tem um papel de integrador da família, devendo-se unir à família para que possa haver reestruturação. È necessário também haver uma avaliação da estrutura familiar uma vez que a família do doente com perturbações mentais é segundo Townsend também ela uma família problemática. Nesta avaliação analisam-se, como afirma Townsend (2000, p. 136), “os padrões transicionais, a flexibilidade e o potencial de mudanças do sistema, limites e estágio de desenvolvimento da família e o papel do paciente identificado no sistema”. O passo seguinte do enfermeiro será, reestruturar a família, estabelecendo uma aliança, tornando-se parte dessa mesma família, podendo manipular o sistema e facilitar as circunstâncias para permitir mudanças estruturais. È também, papel do enfermeiro segundo Taylor (1992, p. 409), “ ajudar na resolução de conflitos patológicos e ansiedade; dar condições de o paciente lutar contra forças destrutivas, tanto dentro de si mesmo quanto dentro da família; fortalecer a família contra perturbações criticas e influenciar a identidade familiar e de seus valores próprios, no sentido de formar um ambiente saudável”.
Com a criação de serviços de cuidados continuados de apoio a doentes com perturbações mentais e às suas famílias, atendia-se as seguintes recomendações do relatório sobre saúde no mundo. Saúde mental: nova concepção, nova esperança, 2001:
Proporcionar atenção na comunidade
“A atenção baseada na comunidade tem melhor efeito sobre o resultado e a qualidade da vida das pessoas com transtornos mentais crónicos do que o tratamento institucional. (...), os serviços de saúde mental devem ser prestados na comunidade, fazendo uso de todos os recursos disponíveis. Os grandes hospitais psiquiátricos de tipo carcerário devem ser substituídos por serviços de atenção na comunidade, apoiados por leitos psiquiátricos em hospitais gerais e atenção domiciliar que atenda a todas as necessidades dos doentes que eram de responsabilidade daqueles hospitais.” (p. 113);

2. Educar o público
“Devem ser lançadas em todos os países campanhas de educação e sensibilização do público sobre a saúde mental.” (p. 113);

3. Envolver as comunidades, as famílias e os usuários
“As comunidades, as famílias e os usuários devem ser incluídos na formulação e na tomada de decisões sobre políticas, programas e serviços.” (p. 113);
7. Preparar os recursos humanos
“Aumentar e aprimorar a formação de profissionais para a saúde mental, que darão atenção especializada e apoiarão programas de atenção primária de saúde.” (p. 113);
8. Formar Vínculos com outros sectores
“Outros sectores além do da saúde, como educação, trabalho, previdência social e direito, bem como certas organizações não-governamentais, devem ter participação na melhoria da saúde mental das comunidades”. (p. 114);
9. Monitorizar a saúde mental na comunidade
“A saúde mental das comunidades deve ser monitorizada mediante a inclusão de indicadores de saúde mental nos sistemas de informação e notificação sobre saúde. Os indicadores devem incluir tanto o número de indivíduos com transtornos mentais e a qualidade da atenção que recebem como algumas medidas mais gerais da saúde mental das comunidades.” (p. 114);

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá
Ando meio perdida no meio da Internet à procura de saber se existem ou não grupos de apoio às famílias de doentes psiquiátricos. Não tenho encontrado nada. Não sei se alguém me pode informar se existem nos próprios hospitais ou noutro tipo de entidades este tipo de apoio, até porque estou completamente perdida e já não sei mais o que fazer quando o meu namorado (que mora comigo) tem crises em que deixa de me ouvir e começa a reagir de forma selvagem e completamente irracional. Já não sei como lidar com isso e já estou farta de cruzar os braços à espera que passe.
Rita

Anónimo disse...

Na AV. Brasil, nº 53(Hospital Júlio de Matos), às 5ªs Feiras, no ginásio do Pavilhão 18F, pelas 10.00horas, funciona um grupo alargado com Psiquiatra presente.
Apareça

Anónimo disse...

Na AV. Brasil, nº 53(Hospital Júlio de Matos), às 5ªs Feiras, no ginásio do Pavilhão 18F, pelas 10.00horas, funciona um grupo alargado com Psiquiatra presente.
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