sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Dias de Aulas de uma P.G. III


Hoje era um dia diferente, uma vez que só teria de entrar ás 11h30m. Teria hoje a primeira aula de supervisão de cuidados. Dois grupos, 10 estudantes, 2 professores. A expectativa era alta uma vez que pouco ou nada sabíamos sobre o que se iria passar. Tinham-nos dito que era como fazer teatro, mas mais nada tinham adiantado. Começámos então a construir o nosso átomo social, que consta em colocarmos os vários actores na nossa vida, neste caso, profissional em determinadas posições, perto, longe, virados para nós ou de costas para nós, consoante a proximidade das pessoas ou dos grupos profissionais. Neste primeiro exercício de representação de átomo social, foi definido que todos os estudantes iriam representar os seus contextos profissionais, no domínio das relações entre profissionais nas instituições em que trabalhamos.
Ao analisar o que se passou, há que realçar os sentimentos dos indivíduos que estavam a representar o seu átomo social pareciam vir à flor da pele. Notou-se algum nervosismo, quando tomávamos o lugar de quem colocávamos à nossa volta e dizíamos o que pensávamos, sobre a opinião que os outros têm de nós.
Pareceu-me interessante e mesmo terapêutico ver-me com os olhos dos outros. Notoriamente, conseguimos uma visão externa de nós. Olharmo-nos com os olhos do outro, é sem dúvida, uma visão privilegiada, pois permite que analisemos as relações de dois pontos de vista, o meu e o do outro. Mesmo que a visão do outro seja condicionada por aquilo que eu acho que ele pensa de mim. Pode, evidentemente, conter erros de avaliação mas, sem dúvida, pode ser um ponto de partida para nos conhecermos melhor e conhecermos melhor o outro.
Construí um átomo social, baseado no Serviço de Pneumologia. Pareceu-me fácil fazer esta construção uma vez que me parece claro a posição que ocupo no serviço, assim como as relações tenho com os diversos profissionais. No entanto, quando me foi pedido para me colocar na posição desses actores e dizer aquilo que eu acho que eles pensam de mim, já não foi tão claro.
Foi difícil, uma vez que senti que poderia ser injusto com uns e não muito rigoroso com outros. O que me pareceu que aconteceu, foi aquilo que eu acho que eles pensam de mim e não aquilo que na verdade eles pensam, pois provavelmente alguns nunca manifestaram, o que pensam sobre mim, assim como, eu também nunca lhes disse o que penso deles. O que me leva a pensar que, provavelmente, as relações menos conseguidas não são por falhas dos outros, mas também por algumas falhas minhas.
A aula da tarde era novamente sobre ética. Primeiro elegeu-se o representante da turma, foi um processo democrático e unânime, uma vez que o eleito nem estava presente.
Hoje o dia académico “in loco” é bastante reduzido, as aulas só começaram ás 15 horas. Cheguei à escola ainda não tinha ninguém chegado. Pouco a pouco, os colegas foram chegando. Falámos sobre as férias, sobre o tempo enfim sobre tudo aquilo que também faz parte de um início de relacionamento. Perguntei como iam as reflexões e os portfólios de dois colegas, inteirei-me das suas intenções.
Chegou o professor Joaquim com outro professor que nos apresentou. Começou a aula. Naquele início, senti frieza de relacionamento. Depois com o passar de alguns minutos correlacionei as parecenças morfológicas e de postura do professor com as de um actor conhecido, e sorri. Não sei se de propósito ou não mas aquela atitude entrou, fez despertar as nossas mentes, senti uma certa leveza no ambiente. O que é certo é que aquilo que nos estava a ser transmitido fazia todo o sentido. Falava-se de relação de ajuda e do processo de aconselhamento. Falava-se de conteúdo manifesto e latente, falava-se de dar sentido depois de ser pensado, de dar autonomia ao outro, de noção de limites, de actos e factos, de transferência e contra transferência, enfim falava-se de muita coisa que encaixavam umas nas outras e que faziam todo o sentido no processo de aconselhamento e também na relação de ajuda.
Sempre fui muito de paixões, sempre fui muito de empatias. Senti empatia por quem diz e pelo que foi dito. Senti que realmente teria muito a aprender. Espero com manifesta curiosidade para o que reserva ainda estas aulas.
Cheguei a casa e continuei as minhas pesquisas. Estou a “atacar” em várias frentes. Este diário, que penso que é o pilar das minhas reflexões pessoais, não por conter nada de muito cientifico com recurso a autores, mas é a partir de aqui que inicio estas pesquisas.

Sem comentários: