terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CONFIRMAÇÃO DE UMA CONSTATAÇÃO



O consumo de cannabis de alta potência e numa frequência diária aumenta até seis vezes o risco de doença psicótica, como a esquizofrenia, conclui um artigo científico publicado hoje, do qual o português Tiago Reis Marques é co-autor
«O uso diário de uma cannabis mais potente aumenta até seis vezes o risco de uma doença psicótica, como esquizofrenia ou outras semelhantes», explicou à agência Lusa o médico psiquiatra dos Hospitais da Universidade de Coimbra, a fazer doutoramento em Londres. No Instituto de Psiquiatria de Londres, o português participa no estudo GAP (Genetics and Psychosis/Genética e Psicoses), cujos resultados são parcialmente publicados hoje na edição de Dezembro do British Journal of Psychiatry (Jornal Britânico de Psiquiatria).
O investigador, de 33 anos, sublinhou, porém, que a cannabis «não é uma causa em si», mas antes um factor de risco e um precipitante de doença mental grave, como a esquizofrenia. «Em pessoas que, com outros factores de risco associados, como genéticos ou sociais, estejam em risco aumentado, [o consumo] é um factor precipitante para a esquizofrenia», refere.
Há muito que as investigações se debruçam sobre as causas das psicoses, nomeadamente sobre factores genéticos ou sociais e consumo de drogas. A novidade deste estudo é a demonstração de que a potência da cannabis consumida e a frequência da sua utilização aumentam até seis vezes o risco de doença psicótica. O investigador português explica que, actualmente, «a cannabis geneticamente modificada, a preferida pelos vulgares utilizadores», originária da Holanda e de outros países, «tem 12 a 18 por cento de THC, substância que provoca os vulgares sintomas, como euforia, desinibição, a vulgar 'moca', quando antes continha apenas dois a quatro por cento».
As «óbvias implicações para a sociedade» poderão passar por se olhar para a cannabis «não como uma droga somente leve, mas como uma droga que potencia e aumenta o risco de doença mental grave», antecipa Tiago Reis Marques. Ressalvando que tal decisão se situa no nível político, o investigador antevê uma «implicação muito importante na agenda de saúde pública, assim como na forma como a política, criminal e legislativa, terá de olhar para a cannabis». O passo seguinte da equipa que Tiago Reis Marques integra será continuar a perceber como é que a cannabis actua no cérebro para que surjam sintomas psicóticos (delírios, paranóia, alucinações, sintomas de perseguição) e como é que a droga se combina com factores genéticos, por exemplo.
Lusa / SOL

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