terça-feira, 8 de janeiro de 2008

COISAS SIMPLES...


Cara enfermeira

Estou a escrever-lhe estas linhas, para saber da importância que teve para mim e para a minha família.
Naquele dia em que fui internado tive um pequeno problema cardíaco pois, irritei-me com a minha mãe e com a minha irmã, coisas supérfluas da vida. Coisas de dinheiro coisas de heranças. Por isso me senti mal, por isso fui ao hospital.
Foi o dia pior da minha vida. Cheguei, mandaram-me despir, fiquei em cuecas, também essas me mandaram despir. Fiquei nu, fiquei à mercê de todos os olhares. Fiquei à mercê da minha vergonha. Deram-me então uma bata verde transparente, que atenuou esta exposição, esta fragilidade, que me deixou um pouco menos humilhado. Após me fazerem RX, analises e ECG, resolveram que não era muito grave, mas mesmo assim fui internado por precaução. Mandaram-me para uma cama e deixei de ser José para ser cama 12, ou o senhor da cama 12. Lá estava eu, despido de roupa, despido de nome, despido de mim mesmo.
Fui para o serviço de cardiologia, senti-me mais reconfortado, pois deixaram ficar a minha esposa. Mas ela estava um pouco nervosa, revoltada e muito cansada. Tanto que disse que eu não queria ver a minha mãe e a minha irmã. Sabe senhora enfermeira, estava tão cansado que nem retorqui, que nem me manifestei. Já tudo tinha passado, tinha sido somente um arrufo que o meu pobre coração quase não tinha aguentado.
Quando a senhora auxiliar, foi-lhe dizer que estavam duas pessoas para me ver, vi o seu ar de preocupação, vi o seu ar de meditação, e pela primeira vez alguém me perguntou a opinião. Alguém realmente se preocupou com o que eu queria, alguém me tratou como eu, e não como mais um doente de entre outros, sem um presente um passado e quem sabe um futuro.
Sabe senhora enfermeira, aquela pergunta feita daquela forma chamou-me à razão. E, apesar dos protestos da minha esposa, senti que não podia renegar a família, e que quem sou eu sem a minha família, afinal eles são mesmo o meu passado.
Tenho a consciência que graças à sua atitude, a minha família se mantém unida, hoje mais que nunca. Hoje tento não me arrufar em demasia pois pode o meu coração não aguentar.
Quero então senhora enfermeira lhe agradecer por ter me ter restituído a dignidade, por me ter restituído a família, enfim por me ter restituído a mim mesmo. Tudo fruto de um momento de silêncio e por uma pergunta doce “ que visitas quer receber, senhor José?”

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