domingo, 30 de setembro de 2007

Sobre formação...de adultos.



A tarefa mais importante de uma pessoa que vem ao mundo é criar algo. Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na acção-reflexão.” (retirado do site http://webquestpaulofreire/.com.sapo. pt)
“Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber começa com a consciência do saber pouco (enquanto alguém actua). É sabendo que se sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais... O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber”( retirado do site http://webquestpaulofreire.com.sapo.pt)
Estas são as maiores premissas que em 1972 Paulo Freire descreveu como a sua concepção de educação. Na altura segundo Freire a educação baseava-se numa concepção “bancária”, concepção esta que se baseia numa educação unilateral, onde o educador desempenha o papel preponderante. È o educador que é o detentor de todo o conhecimento, ignorando qualquer conhecimento do educando, inclusive a sua história de vida e o conhecimento adquirido como ponto de partida do ensino.
O educando assume somente um papel passivo no processo educativo, são “fiéis” depositários do conhecimento, assumindo-se somente como ouvintes e memorizadores. Sem outra intervenção no processo educativo, que não o de assumir como verdades, o que está a ser transmitido, sem qualquer processo critico.
È preciso não esquecer que estávamos em 1972 quando Freire descreveu este tipo de educação, em que o Brasil estava numa Ditadura Militar. Este tipo de educação está quase sempre ligada a regimes totalitaristas, pois permite moldar as consciências das pessoas em benefícios do regime. Também em Portugal este tipo de concepção foi adoptado. Lembremo-nos do papel do mestre-escola, lembremo-nos como no início das nossas vidas escolares nos eram autenticamente impostos conceitos, regras e autênticos espartilhos na nossa educação.
Por outro lado Freire (1972) define a concepção problematizadora na sua obra Pedagogia da Educação. Aí Paulo Freire contextualiza a concepção da educação problematizadora. O educando rompe com os espartilhos, (ou o deixam romper) e assume definitivamente um papel activo na educação. A relação, educador / educando assume uma reciprocidade na transmissão do conhecimento. O educando e o educador definem conteúdos programáticos em conjunto e percorrem juntos o caminho educativo. Assumem-se como investigadores, como criadores, como pessoas capazes de em conjunto produzir saberes.
Freire refere que "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." Esta concepção transmite-nos essa reciprocidade de papéis entre educador/educando e acrescenta-nos um novo conceito que é a introdução da sociedade no processo de educação e de aculturação do indivíduo. Processos de modificação cultural dos indivíduos, grupos ou povos que se adaptam a outras culturas ou delas retiram traços significativos. Processo por meio do qual um indivíduo absorve, desde a infância, as culturas das sociedades em que vivem. A experiência torna-se algo importante pois como refere Canário (1999, p.109) “A experiência de quem aprende torna-se o ponto de chegada dos processos de aprendizagem”.
È um processo aberto aos actores do processo educativo e ao exterior. Normalmente este tipo de educação está mais presente em sociedades democratas, em que não há uma classe predominante que queira impor o saber e que não trate o “povo” como tábua rasa do conhecimento. Por isso o texto se chama “Pedagogia do oprimido”.
Pensemos como as coisas mudaram. Nessa altura seria impensável que um educador propusesse aos educandos a construção de um portfólio. Este percurso revela a construção de uma educação problematizadora.
Compilo, analiso, critico e construo a minha aprendizagem, não num processo solitário, mas onde a discussão é fundamental para a cimentação do conhecimento. Repare-se que provavelmente interpreto um texto de maneira ligeiramente diferente de outro educando, com experiências de vida completamente diferentes da minha.
Neste tipo de educação os indivíduos captam e percebem os factos, conseguindo desmistificar as razões que o explicam e são capazes de compreender os seus nexos causais e circunstanciais. A educação problematizadora fundamenta a criatividade e estimula a reflexão, dando origem a acções verdadeiras sobre a realidade. Tem característica de inquietude e busca constantemente a acção transformadora, desenvolve constantemente a capacidade de revisões e reinterpretações, a segurança na argumentação, a facilidade para o diálogo e a abertura à transformação.
A “pedagogia do oprimido” é uma pedagogia que entende a prática educativa, como prática essencialmente politica. Segundo Freire (1972) não se pode separar educação de consciencialização. A preocupação da pedagogia do oprimido é, pois, forjar um trabalho com o educando e não para o educando. A libertação só pode ser possível pela reflexão crítica dos oprimidos sobre as condições concretas de vida, sobre opressão e suas causas. È nesse percurso de reflexão e acção crítica que a pedagogia se fará, refará e se reelaborará.

2 comentários:

Anónimo disse...

A pedagogia de Paulo Freire é pouco conhecida entre nós e compreende-se porque: o paradigma em que vivemos actualmente não se conjuga com este tipo de pedagogia.
Existem poucas pessoas que sabem que em Portugal existe o Instituto Paulo Freire (Porto) que tem uma dependência na U. Lusófona.
Deixo link.
Felicidades para o blog e bem vindo à blogosfera.

Anónimo disse...

Paulo Freire dá o grito do Ipiranga no que diz respeito à formação de adultos no brazil, falarei também de outros autores mas Portugueses.

obrigado.