quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Diz que até não é um mau blog


Depois de algum tempo a tentar conseguir exibir orgulhosamente este sinbolo enviado pelo doutor enfermeiro e de analfabeticamente (informaticamente falando) não conseguir fazer links, aparece outra nomeação do blog Neuro_enfermeiro. Sinto-me então na obrigação de tambem eu exprimir a minha votação.
Agora as regras do jogo:
1. Este prémio deve ser atribuído aos blogs que considerem serem bons, entende-se como bom os blogs que costuma visitar regularmente e onde deixa comentários.2. Só e somente se recebeu o “Diz que até não é um mau blog”, deve escrever um post:- Indicando a pessoa que lhe deu o prémio com um link para o respectivo blog;- A tag do prémio;- As regras;- E a indicação de outros 7 blogs para receberem o prémio.3. Deve exibir orgulhosamente a tag do prémio no seu blog, de preferência com um link para o post em que fala dele.4. (Opcional) Se quiser fazer publicidade ao blogger que teve a ideia de inventar este prémio, ou seja – Skynet - pode fazê-lo no post).

Assim sendo existem alguns blogs que o Psikiatrices consulta quase religiosamente:
Existem outros tantos (que tambem mereciam a votação), que tambem visito mas não são de enfermagem ou de enfermeiros e esse foi o meu critério.
Obrigado a todos os que nestes 4 meses de pensamentos, artigos e comentários me acompanharam. Isto de ter um blog é como ter um outro filho, é presciso, alimentar, acarinhar, enfim, cuidar.

Construção de Si, Cuidado e Compaixão


Muitas vezes ouvimos a expressão “ a felicidade não existe, o que existe são momentos de felicidade”. Para podermos opinar sobre esta expressão, parece-me obvio que é necessário pensarmos o que é felicidade. Felicidade pode ser definida como um estado de alegria, sem sentimento de culpa, Russel indica que felicidade é o objectivo de todo o ser humano. No entanto, o viver o dia a dia feliz é decisão de cada um de nós, cabendo aos outros poder influenciar, mas não decidir como é a nossa felicidade. Se considerarmos que a felicidade está intimamente e exclusivamente ligada ao prazer, então a frase faz todo o sentido uma vez que o prazer é efémero. O casamento, o nascimento de um filho, um momento de prazer sexual, são todos momentos repletos de prazer, no entanto efémeros. Por aqui, nunca poderíamos dizer que alguém atingiu a felicidade. Logo, se reportarmos a expressão para um domínio social, financeiro, da relação com os amigos ou mesmo na relação familiar, parece-me que a expressão pode ser considerada verdadeira.
Se reportarmos a expressão, para um domínio individual, da constante busca da felicidade, de dar valor aos aspectos mais ínfimos da nossa existência, numa constante simplicidade voluntária, dando valor a coisas do domínio do ser, diminuindo o valor do domínio do ter, então aí a felicidade já pode assumir um carácter permanente, logo já poderemos dizer que a frase não faz sentido. A felicidade está no nosso bem-estar, de como estamos bem física e mentalmente, de como não temos conflitos com os outros e sabemos perfeitamente quem somos e para onde caminhamos. Assume aqui a felicidade um domínio mais profundo de uma construção interior.
A nossa vida é cada um de nós que a constrói, lia eu outro dia a respeito da vida, que esta é como um tapete. A cor e o tecido já vêm prontos mas somos cada um de nós que o tece. Somos nós que fazemos a nossa vida e que percorremos o nosso caminho de construção individual, para isso é necessário realmente nos conhecermos. Os nossos pais, a nossa família, os nossos amigos, a sociedade em geral, dão-nos a cor e o tecido, mas quem constrói o tapete da nossa vida somos realmente nós, baseados naquilo que somos e que aprendemos. No entanto este tapete está sempre em construção desde o dia em que nascemos, é necessário que por vezes tenhamos a consciência do que foi vivido, para aprender com as experiências passadas. Ouvimos muitas vezes, que “somos um produto da sociedade em que vivemos”, que “foi a educação que teve”, isto muitas vezes para justificar más opções, caminhos menos bem conseguidos. Apesar de sermos bastante susceptíveis à educação dos nossos pais, somos também resultado das nossas experiências, o que quer dizer que seguimos o nosso caminho, mesmo que seja bastante diferente daquele caminho que nos foi indicado por quem nos deu educação. Por isso apesar de todo o tecido e cores que nos proporcionam, cabe ao indivíduo seguir o seu caminho, fazer as suas escolhas. Lembro-me da metáfora do retrovisor, quando conduzimos olhamos para a frente. Mas por vezes quando necessário, olhamos para o retrovisor para nos orientarmos, para olharmos para o caminho percorrido para um ou para outro obstáculo que enfrentámos, enfim, para o vivido. No entanto, depois olhamos para a frente e continuamos o nosso caminho, sem nunca o vivido deixar as suas marcas na nossa vida, sendo de extrema relevância naquilo que somos e interferindo decisivamente para aquilo que seremos.
Isto é, será sempre necessário para nos conhecermos melhor, que tenhamos o cuidado de olhar para trás, reflectir nas experiências vividas e utilizá-las para resolver problemas futuros. No entanto somos muitas vezes, neste percurso, atormentados por “fantasmas” que não permitem que nos possamos construir de uma forma saudável. È, de elementar importância que possamos pelo menos assumir a existência desses fantasmas, reflectindo sobre as nossas histórias de vida. Este exercício, que encerra em si, uma construção interior, para quem o consegue fazer sem se tornar fonte de sofrimento. Sem duvida, que um povo só cresce quando tem consciência da sua própria história. Não se refugia em medos e preconceitos, mas enfrenta, encara e enaltece, as suas vivências, nos seus domínios positivos e negativos. Aproveita os positivos para continuar e analisa os negativos para melhorar
Como nos diz Huxley experiência não é o que aconteceu contigo, mas o que fizeste com aquilo que te aconteceu. A história de vida de cada indivíduo é um processo singular de (re) construção individual.
Só tendo consciência do que somos, das nossas virtudes, das nossas fraquezas e limitações é que podemos eventualmente cuidar bem de nós. Não podemos ajudar o outro se, primeiro, não nos cuidarmos. É essencial vermo-nos de uma forma holística, para balizar convenientemente as nossas capacidades, os nossos limites, as nossas carências e as nossas fragilidades. Tenho a necessidade de por vezes olhar para dentro, fazer uma “re-flexão” sobre mim para conhecer o lugar que ocupo, e quem eu sou realmente. Existe, por vezes, a necessidade de transmitir aos outros uma ideia de quem somos, numa perspectiva de corresponder ás expectativas que por vezes não corresponde á verdade. Esta “dupla” personalidade cria, por vezes momentos de angústia de alguma frustração. Há por isso a necessidade de cuidarmos também de nós antes de cuidarmos do outro. Como é que alguém pode confiar em mim se eu não me cuido.
Depois é necessário clarificar o que o outro realmente representa para mim. No que concerne à enfermagem e assumindo que a relação de ajuda está presente em todos os domínios do cuidar, esta pergunta é essencial para que se consiga ter uma relação empática, justa e verdadeira. È necessário, em primeiro lugar, também ter auto-compaixão, antes de ter compaixão pelo outro. Compaixão é sem duvida um dos sentimentos mais nobres num ser humano. Não, quando é visto numa perspectiva de caridade, de sobranceria ou superioridade, mas quando é visto como o resultado do sentir verdadeiramente como seu o sofrimento do outro. Não é o mesmo que piedade ou algo passivo, pelo contrário, compaixão é ter a virtude de compartilhar o sofrimento do outro, é a capacidade de compartilhar a paixão do outro e com o outro, saindo do campo puramente individual para entrar no universo do outro. Desse modo, assume o sentido de empatia. É ver o outro de forma igual. Na perspectiva do cuidar assume -se como essencial a relação de ajuda, pois esta é apontada como uma das vias para a humanização da saúde. Assim, a relação de ajuda é entendida como uma forma de cuidar na perspectiva do cuidado, ou seja, o papel do profissional de saúde é ajudar o utente a satisfazer as suas necessidades fundamentais, acreditando que o utente possui os recursos que lhe são necessários para lidar com determinada situação, construindo a autonomia do utente.

domingo, 25 de novembro de 2007

Uma Carta ao senhor Ministro da Saúde

Por norma este blog não foi criado para assuntos sindicais ou emitir opiniões politicas, para isso emito a minha opinião noutros locais. No entanto na minha perspectiva esta carta merece ser lida, não só por uma abordagem extremamente original de uma temática que hoje preocupa a todos os enfermeiros.
Carta retirada de http://www.forumenfermagem.org/forum/index.php?topic=1510.0

"Exmo. Senhor Ministro da Saúde Correia de Campos,
Sou uma pessoa que concluiu, este ano, a Licenciatura em Enfermagem e venho, com grande embaraço, pedir-lhe emprego.
Eu sei que é um pedido estranho mas foram pessoas que já estão a trabalhar na área que me aconselharam a fazê-lo. O que me têm vindo a dizer é que devo pedir uma “cunha”. No início desconhecia a palavra e então fui ver ao dicionário e encontrei isto: “instrumento de ferro ou madeira, para fender pedras, madeira, etc.”. Mesmo a achar estranho, fui à procura de uma mas não encontrei na minha cidade e não podia ir a outra pois os meus pais não me tinham dado dinheiro suficiente. Os meus pais, coitados, já me deram tanto dinheiro durante o curso (imagine a darem 970€/ano no mínimo, mais dinheiro alojamento, alimentação, livros, fotocópias e outras coisas) e agora para cartas, avisos de recepção, fotocópias, autenticações, etc. só para concorrer para listas de espera para trabalhar. Ai, peço desculpa pelo desabafo. Voltando à “cunha”. Como disse não encontrei nenhuma “cunha” e desisti.
Passados uns 3 meses de ter acabado o curso decidi ir trabalhar para outra coisa sem ser enfermeiro, para não pedir mais dinheiro aos meus pais. Fui, então, a um shopping na minha área de residência, ao Dolce Vita que de certeza que deve conhecer, e entrei numa loja de sapatos para crianças. Entreguei o meu curriculum vitae, onde não ocultei a minha Licenciatura em Enfermagem, a Dona da Loja disse logo “Um Enfermeiro a pedir emprego numa Sapataria, está assim tão mal?”. Após uns 3 minutos de conversa ela diz logo para começar no dia seguinte. No primeiro dia fiquei com ela em integração e em conversa ela perguntou porque não arranjava uma “cunha” para os hospitais mais pertos, ao que respondi que não encontrei nada mas que o pedreiro, meu vizinho, sabia de uma loja que vendia umas. Logo a Dona começou a rir-se e então perguntei porquê tal gargalhada. Prontamente me explico que “cunha” também significa pessoa que consegue pedir a que admite os Enfermeiros nos Hospitais ou outra entidade de saúde para os colocar à frente de outros ou simplesmente lhe dar emprego.
E então pensei: como não conheço ninguém assim por que não pedir ao Ministro da Saúde, o mais indicado para esta situação e que tem o mesmo apelido que eu, para que fosse a minha “cunha”? É esse o motivo pelo qual lhe mando este e-mail a pedir-lhe emprego. Posso dizer-lhe que não tenho experiência profissional, pois os estágios académicos não contam. No entanto, posso dizer-lhe que tenho imensa experiência em Pediatria por trabalhar neste momento numa loja de calçado para crianças, em Ortopedia por que vendo sapato formativo e ortopédico e em Infecciologia por que vendemos palminhas anti-bacterianas e anti-fúngicas.
E agora você deve estar a questionar-se o porquê de ainda não ter um emprego como Enfermeiro tendo eu esta experiência toda e se me candidatei aos concursos que abriram. Eu candidatei-me mas tenho ficado em 300º lugar ou em outros em 1000º lugar. E com poucas vagas (eu compreendo que você tem uma cota definida para meter “cunha”) é difícil ficar com um emprego. Eu penso que fico com esta classificação porque a maioria têm mais experiência em Sapataria, Bares, McDonald’s, entre outras coisas do que eu. O facto de concorrem muitos Enfermeiros penso que se deve ao facto de ainda pensarem que “cunha” significa “instrumento de ferro ou madeira, para fender pedras, madeira, etc.”.
Sem mais nenhum assunto termino este e-mail pois quero chegar cedo à passagem de turno da loja. E ainda tenho muitas coisas para fazer hoje, pois em um mês sou como um gerente da loja, disse a Dona da Loja que tinha excelente capacidades e que os serviços de saúde perdiam muitos em não me ter. O mesmo dizem os Clientes, a quem faço questão de dizer que sou Enfermeiro pois sei lá se qualquer diz não aparece na loja um parente seu e me ajude.
E deixo-o, então, com este meu pedido e rezo, agarrado à “cunha” de metal que comprei com o meu primeiro ordenado na loja, que me consiga algo urgentemente.

Cumprimentos,
Um Enfermeiro perto de si"

Dias de Uma P.G. VIII

Novamente hoje só tivemos aulas no período da tarde. Foi a última aula do módulo Técnicas Expressivas. Hoje falámos do contexto teórico deste módulo. Foram observadas várias técnicas, desenho, modelagem e recorte. Mais uma vez como tem acontecido neste módulo sinto que posso aplicar estas técnicas no meu serviço. Tenho no entanto pena que estas aulas tenham terminado. Além de serem, sem dúvida, importantes no que concerne à minha aprendizagem, também para mim são como um escape de algum stresse acumulado.
Estamos a chegar ao fim do primeiro semestre, o trabalho acumula-se de uma forma quase impensável. Dizia eu a uma professora desta Pós-Graduação que é pena não ter mais tempo para trabalhar. Ela perguntou-me se “apetecia ter mais tempo”. Respondi que sim, mas não se trata de apetecer mas sim de necessidade. Necessito ter muito mais tempo para aprofundar as matérias dadas nesta Pós-Graduação.
Escrevo este texto, após ter olhado um pouco sobre o que fiz neste portfólio e, sinceramente, o volume de trabalho é considerável. Se agora sei tudo sobre o que escrevi e sobre o que li? Não sei. Se posso falar de tudo com segurança sobre tudo o que li? Talvez. Se me sinto satisfeito com o conteúdo deste portfólio? Sim. Embora do aprendido à aplicação desse aprendido ainda se imponha algumas distâncias, necessito acima de tudo, criar tempos e espaços para aplicar estas técnicas dadas e outras por mim pesquisadas e já em análise da equipa de enfermagem da qual faço parte, para efectivamente começar a mudar algo na vida das pessoas, com o que foi por mim aprendido.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

ESCRITA CRIATIVA



As perguntas que hoje mais me fazem são:
- Pai, o que andas tu a estudar? O que andas tu a aprender?
- É uma pergunta que ainda me coloco e que ainda não tenho resposta definitiva. O que já vos posso dizer é que ando a aprender em primeiro lugar a conhecer-me e talvez a compreender melhor os outros.
Sempre se disse que, quem escolhe o ramo da Saúde Mental / Psiquiatria, pretende essencialmente, ou tratar-se ou tratar os outros. Quando falo em tratar-se, ponho o termo no domínio do cuidar-se. Isto significa ver com outros olhos as nossas coisas, as nossas atitudes, o nosso posicionamento sobre as nossas coisas e com os outros e, reflectir sobre isso. È talvez reflectir sobre o vivido e aprender sobre nós, sobre o que somos e o que realmente fazemos, tanto a nível profissional como pessoal.
Quando falo sobre tratar dos outros é por mim entendido como cuidar de…, não ver o outro como uma perna, um braço, um pulmão ou um fígado, mas conhecê-lo como um todo, tendo em conta as suas experiências de vida, qual o sentido que quer dar à sua vida e o seu posicionamento sobre os seus assuntos e sobre as suas coisas.
O conhecer o outro não é como compor uma manta de retalhos. Assim como, eu para ser eu necessito dos outros, pois só com os outros eu me completo, também os outros que me rodeiam se completam comigo. Todos nós somos, assim como um cobertor, a cor e o fio são os outros que nos fornecem, mas somos nós que o tecemos.
- Pai, sendo assim, és como o Orelhas, que ajuda o Noddy a conhecer-se melhor e ajuda-o quando ele está triste?
- Não filhas, o Orelhas é como um guia, como a voz da consciência do Noddy. O pai não tem essa pretensão. Aquilo que o pai ambiciona é simplesmente ajudar os outros a superar momentos de crise.
- Pai, mas isso é o que faz o Senhor Lei, a Macaca Marta, o Orelhas, a Ursa Teresa.
- Sim filhas, somos todos nós que nos ajudamos uns aos outros a superar momentos de ansiedade e de crise. Provavelmente existe em cada um de nós um bocadinho dessas personagens do Noddy. Mas muitas vezes, mas mesmo muitas vezes, sou simplesmente o Noddy.

Historia de Vida - Filme

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dias de uma P.G. VII

Já há duas semanas que não ia às aulas. Uma semana por motivos profissionais e outra porque fiquei apeado na auto-estrada, sem carro, que resolveu avariar, infelizmente, para sempre. Coisas que acontecem.
Recebi ontem a noticia que vou participar na abertura do Serviço de Psiquiatria do Hospital Garcia de Orta.
Hoje, o dia de aulas foi sem dúvida um dia produtivo. Eu e mais dois estudantes da Pós-Graduação apresentámos o que já tínhamos feito relativamente ao portfólio. As minhas dúvidas dissiparam-se, os meus receios afinal não têm razão de ser. Vejo que estou no bom caminho e na minha opinião a produzir trabalho que é válido na aprendizagem das temáticas da saúde mental. Apresentei o meu filme “você aprende”, sobre mim e sobre os meus gostos, sobre como vejo a vida. Este filme é feito com fotografias minhas, imagens que gostei e excertos de filmes que me marcaram nas diferentes etapas da minha vida. Apresentei também a estrutura do meu portfólio.
Na aula da tarde, técnicas expressivas, fizemos exercícios de dinâmicas de grupo. Foi sem dúvida excepcional. Conversei com colegas com os quais ainda não tinha conversado, já que a dinâmica incidia muito sobre a confiança. Penso que estas dinâmicas podem ser bastante úteis no meu serviço, uma vez que, também nós não nos conhecemos.
Estas dinâmicas, podem ser úteis em grupos que necessitem de adquirir confiança entre os membros, assim como, permite uma maior auto-confiança do indivíduo. Promove o trabalho em equipa e estimula a entreajuda.
Cada vez mais me sinto motivado para aprender mais sobre estas técnicas, para poder executá-las não só nos profissionais do meu serviço, assim como, nos nossos doentes.
Há hora do pequeno-almoço, tive a oportunidade de trocar algumas impressões sobre o portfólio, sobre o meu e dos outros. O meu ficou parado por uns dias, uma vez que estou a elaborar normas e um trabalho de pesquisa sobre as doenças psiquiátricas mais comuns, uma vez que estou a abrir o Serviço de Psiquiatria no Hospital Garcia de Orta. Talvez o portfólio não esteja mesmo parado, uma vez que estou a trabalhar para compreender melhor as patologias do doente psiquiátrico. Esta mudança não está a ser fácil. Primeiro, as despedidas do Serviço de Pneumologia. Pessoas que muito gosto e com quem partilhei espaços e tempos de vida, vão deixar de estar em convívio diário comigo. Lá estou eu a fazer analogias entre as despedidas e a morte. Segundo, por entrar num novo serviço que me pode oferecer novas oportunidades, como diz Francis Bacon “ O homem deve criar as oportunidades e não somente encontrá-las”. A ver vamos, mas começo a claudicar, devido a algum cansaço acumulado. Espero recuperar as energias, pois o mês de Julho parece ser intenso e ainda tenho muito que pesquisar e escrever para o portfólio.
Sinto-me em falta para com as colegas que partilharam comigo as histórias de vida. O primeiro semestre da Pós Graduação está a terminar, o portfólio está por acabar e o trabalho nos meus dois hospitais mantém-se, pelo que será necessário fazer opções, mesmo que me apeteça muito estar em todo lado, é humanamente impossível. Resolvi não ir à aula da manhã.
Fui então, depois de um sono reparador depois de uma saída de vela, à aula da tarde. Depois de efectuarmos o ritual das mesas e cadeiras e do aquecimento, a aula de técnicas expressivas hoje debruçou-se sobre pintura, comunicação expressiva de emoções através do desenho. A temática do desenho era simples, desenhar sobre um sonho recorrente na nossa vida. Se a temática era simples, a tarefa pareceu-me mais complicada, pois escolher de entre muitos sonhos que me incomodaram, ou que realmente me fizeram feliz, não é fácil.
Resolvi desenhar, sobre um sonho que tive várias vezes, quando era adolescente. Chamo-lhe, o “pânico das portas”. O medo de chegar atrasado ao um teste na escola, provoca sonhos que definitivamente nos incomodam. A ansiedade e a insegurança instala-se quando queremos bater a todas as portas e nunca encontramos, a porta certa, para cumprir as nossas tarefas.
Quantas vezes na vida também não sentimos estas angústias por não sabermos a que porta bater para seguirmos em frente, ou, quantas vezes não nos depararmos com várias alternativas e sentimo-nos indecisos sobre o caminho a seguir.
A tarefa seguinte foi explicarmos os nossos desenhos, mais uma vez fui o primeiro a fazê-lo, afinal é sempre necessário alguém para quebrar o gelo, para se continuar a aula. Foi extremamente divertido, embora, a brincar se fale de coisas sérias.
Só tenho pena destas aulas estarem a terminar. Além de serem aliciantes, servem também para nos mostrar o potencial terapêutico destas técnicas. Para mim, pelo menos, sinto que é terapêutico, pois sinto-me mais relaxado, mais confiante e no grupo encontro elos mais fortes, dada a partilha que fazemos nestas aulas.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Continua-se a Falar de Formação


“O que fazemos contribui para o que somos, o que somos revela-se no que fazemos”
(Couceiro, 1998:p.60)

COMENTÁRIO

Para analisar esta frase cheia de sentido, temos que a analisar sob vários domínios. O domínio da formação, da experiência, o domínio da competência profissional e do domínio da moral e da ética.
Segundo Canário (1999, p.109) “ A experiência de quem aprende torna-se o ponto de partida e o ponto de chegada dos processos de aprendizagem, (…)”. O processo de formação permanente está de acordo com o conceito de ser humano como ser inacabado, em que deverá existir um reconhecimento das experiências como processos de aprendizagem.
Assim Canário (1999) acha que o homem está sujeito a “aprender para se construir, segundo um triplo processo de hominização (tornar-se homem), de singularização (tornar-se exemplar único, de socialização (tornar-se membro de uma comunidade, da qual partilha valores e em que ocupa um lugar). Aprender para viver com outros homens, com os quais partilha o mundo” (p. 109)
Torna-se deste modo evidente para todas as novas teorias de formação, nomeadamente a formação de adultos, a extrema importância dos saberes adquiridos por via experiencial e o seu papel na produção de novos saberes. Este reconhecimento sugere a quem pretende experimentar qualquer processo de aprendizagem, a utilização da experiência como principal recurso de formação.
Canário (1999, p.116) entende que “ a formação é, assim, feita de momentos que só adquirem o seu sentido na história de vida”. Nóvoa (1988, p.115) entende que “formar-se não é instruir-se, è antes de mais reflectir, pensar uma experiência vivida, (…) é aprender a construir uma distância face à experiência vivida, é aprender a conta-la através de palavras, é ser capaz de conceptualizar”.
A história de vida de cada indivíduo é um processo singular de (re) construção dos sujeitos. Partimos deste entendimento para estabelecer um análise da acção, considerando os aspectos profissionais de cada indivíduo. O aspecto da vida de uma pessoa está intrinsecamente relacionado com a sua prática profissional.
Assim sendo e partindo destas premissas, aquilo que fazemos contribui para aquilo que somos. Já que, aquilo que somos é influenciado por toda a nossa experiência adquirida durante a nossa vida. Quando fazemos algo, mobilizamos todos os conhecimentos apreendidos até aí.
No contexto profissional, quantas vezes damos por nós a dizer ou a fazer algo que há uns anos atrás não faríamos desta ou daquela forma. Não quer dizer que mudamos de atitude, ou que antes fazíamos de forma errada. Ou quantas vezes encontramos um profissional mais novo e nos revemos naquilo que ele faz ou diz, embora que hoje a nossa compreensão de um determinado fenómeno ou foco de atenção seja feita de uma forma diferente. Penso que a experiência, a maturidade profissional é que faz a diferença. Como refere Canário (1999, p.109) “ (…) experiência nos processos de aprendizagem supõe que esta é encarada como um processo interno ao sujeito e que corresponde, ao longo da sua vida, ao processo de auto-construção como pessoa”. Logo, mobilizamos saberes e experiências ao longo de toda a nossa vida para resolver uma qualquer situação que se nos depare. Quando falamos em o que fazemos não é desprovido de sentido falar de competências. Nunes (2002, p.9) afirma que “ (…) a competência profissional assume características multidimensionais e aquilo que cada um espera vai sendo modificado pelas experiências de vida reflectidas”. Também Hesbeen (2001, p.27) refere que “ o prestador de cuidados é um perito porque dispõe de diferentes saberes provenientes da sua vida pessoal como da sua formação e da sua experiência profissional”.
Novamente Nunes (2002, p.8) “ há um estilo pessoal que se constrói, relacionado com a reflexão sobre o vivido e a vontade de adequar os comportamentos e as atitudes”, Pires (1994, p.9) avança que “a competência é forjada ao longo de um percurso feito de experiências, de projectos e de praticas, de estudos e de actividades, por aspectos operativos, afectivos e intelectuais”. O balanço das competências comporta uma etapa autobiográfica que resulta no autoconhecimento das competências e conhecimentos adquiridos na escola, na família e no trabalho. Exige um esforço pessoal de autoavaliação e de formalização dos saberes adquiridos tendo em vista a definição de um projecto pessoal e profissional. Esta perspectiva é realçada no texto por Canário. Por tudo isto considero e corroboro a primeira parte da frase que afirma que o que fazemos contribui para o que somos.
A segunda parte da frase indica que o que somos revela-se no que fazemos. Mais uma vez não podemos descurar como atrás referido na análise das competências profissionais. No entanto, aquilo que somos também assume uma perspectiva ética e moral do que fazemos. Somos o produto de uma educação que nos foi incutida em casa, na sociedade, nos locais de trabalho, mas acima de tudo somos singulares na visão dos fenómenos, isto porque também temos uma identidade própria. Tivemos influências e valores diferentes, já que essa diversidade também acontece pela multiplicidade de histórias de vida.
A nossa atitude enquanto enfermeiros, revela necessariamente o que somos, as nossas crenças, pois como refere Hesbeen (2001, p.65) refere que “ a reflexão é incontornável nas profissões que cuidam desde que estes queiram decididamente abordar a pessoa e não apenas o seu corpo”.
A reflexão da prática assume sempre um papel fundamental no domínio pessoal e profissional. Pois como refere Canário (1999) falando da aprendizagem relacionada com a prática associada ás histórias de vida “ A prática do reconhecimento dos adquiridos experienciais tem como fundamento não apenas, nem sobretudo, a cumulatividade das experiências vividas mas a capacidade do sujeito para as tirar e reelaborar, integrando-as como saberes susceptíveis de serem transferidos para outras situações”. (p.112)
Quando trabalho com doentes em fase terminal, lembro-me de quanto inicialmente era difícil para mim lidar com o sofrimento, com a dor e com a morte. Eram essas as minhas dificuldades, fruto talvez de uma educação Judaica-Cristã em que o sofrimento está presente como penitencia dos pecados. Lidar com as famílias no seu desespero, desesperava-me.
Hoje amenizei esse desespero, com estes anos de profissão, a experiência ensinou-me a lidar com estes doentes, a reconhecer os seus sentimentos, as suas angustias e o seu sofrimento. Esta mudança de comportamento, não aconteceria se porventura não tivesse sistematicamente lidado com este tipo de situações, não tivesse lido ou falado das experiências dos outros, que como eu passaram por este tipo de situação e lidaram com este problema de diferentes formas, utilizando diversas estratégias. O que fiz foi encontrar o meu caminho, as minhas convicções e as minhas fragilidades e reorganizar-me interiormente. Por isso, considero que a minha formação neste domínio teve muito de investimento pessoal, muita reflexão destas experiências formadoras. Moniz (2003, p.18) citando Josso (1993) considera a experiência formadora “quando submetida a um processo de reorganização, de reconstrução e de modificação”.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Dias de uma P.G. VI



A unidade curricular de hoje é relação de ajuda/ Processo de aconselhamento. Hoje a aula foi um revisitar dos conteúdos dados. Foi como arrumar as coisas, etapas, papéis e conceitos ficaram na minha perspectiva bastante melhor esclarecidos. Hoje é a última aula com o Dr. João Geraldes, penso que estas aulas foram decisivamente positivas, pois é dado uma perspectiva diferente da relação profissional/doente de alguém externo à enfermagem. Muitas coisas foram cimentadas hoje e decisivamente, na minha perspectiva, poder-se-á fazer a relação de processo de aconselhamento/ Aliança terapêutica e relação de ajuda. Faz sentido agora depois de ler o livro “Processo de Aconselhamento”, reflectir sobre as nossas práticas à luz do que é o processo de aconselhamento.
Hoje o dia de aulas foi completo. Ás 8 horas e 30 minutos começou o módulo Narrativas de Vida. Esta aula foi como um reviver de sentimentos da aula passada em que nos contámos ao grupo. A grande diferença é que desta vez reflectimos sobre as nossas experiências e partilhamos o que sentimos. Muitas vezes somos confrontados com situações que nos incomodam sem saber bem porquê. Estes momentos de partilha de experiências serve também para pensarmos que não somos os únicos a sentir o que sentimos. Foi basicamente isto que se passou, há primeira vista parece pouco, mas se analisarmos com mais atenção o que se passou veremos que muita coisa foi apreendida e muita coisa foi reflectida.
À tarde, iniciámos um novo módulo sobre Técnicas Expressivas. Sinceramente tinha algumas fantasias sobre este módulo. A primeira aula correspondeu totalmente a estas fantasias, digo até que superou, uma vez que vi as potencialidades terapêuticas da técnica abordada. Falou-se de escrita criativa, e elaborámos um texto sobre a pós-graduação. Em primeiro lugar não sabia o que escrever, mas ocorreu-me que seria criativo explicar às minhas filhas o que o pai andaria a aprender na escola, uma vez que também o pai lhes pergunta o que elas andam a aprender na escola.
De seguida analisámos os textos de alguns colegas e o meu texto. Somos sem dúvida diferentes uns dos outros, pois aquilo que nos move é diferente, os nossos interesses são, definitivamente, diferentes, apesar de todos nós queremos concluir com aproveitamento esta pós graduação. Foi sem dúvida aliciante. Fiz algumas pontes nesta técnica com o processo de aconselhamento e sem dúvida com as narrativas de vida. Como se costuma dizer na gíria futebolística fiquei adepto deste módulo e desta técnica em particular.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Para a minha avó..



Porque a familia é muito importante e esta semana perdi a última avó.
Descansa em paz avó Gusta...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

strike zone

Mais um filme de Cameron Duncan sobre a sua história de vida... Mais um relato impressionante. A ver... com muita atenção.

strike zone

Dias de Aulas de uma P.G. V




Era então hoje o dia da narração das histórias de vida. O grupo tinha sido estabelecido na aula anterior, consoante as experiências em outras situações pedagógicas semelhantes. O meu grupo é constituído por mim e mais três colegas mulheres.
Fui o primeiro a narrar a minha história de vida. Apesar de estar habituado a fazê-lo, não deixa de ser sempre uma nova descoberta e um novo encontro comigo, com o meu passado, com o meu vivido. Aspectos positivos que são exprimidos com sorrisos, e aspectos com carga negativa contados com mais emoção. Falei ininterruptamente durante cerca de 28 minutos. O sentimento de partilha é sem dúvida interessante, uma vez que estava-me a contar perante três pessoas, que apesar de colegas, penso ser a primeira vez que estava a falar com elas. A segunda colega falou com emoção, era a primeira vez que teve “coragem” para contar uma experiência traumática, senti que se encontrou com os seus “fantasmas”, senti-a inicialmente perdida, insegura e vulnerável. Com o passar do tempo o seu discurso passou a ser mais confiante, embora não disfarçasse a emoção.
A terceira colega a falar, pareceu-me uma mulher mais vivida e com os seus “fantasmas” dominados, era sem duvida uma história sofrida, cheia de desencontros e carregada de sofrimento. Pareceu-me alguém que já reflectiu este período da sua vida e finalmente encontrou o seu caminho.
A última colega a narrar a sua história de vida, prometeu que não falaria muito, uma vez que se sentia incapaz de se contar. Realmente teve bastante dificuldade, mas sentiu que aquele momento de partilha de experiências tinha sido genuíno e tentou partilhar com o grupo.
Ao analisar as histórias de vida, há sem duvida uma preponderância de movimentos negativos. O sofrimento é sem duvida o que é mais difícil de relembrar, embora porém, talvez seja aquele que mais necessidade teremos de partilhar. Ao contarmos momentos traumáticos, enfrentamos os nossos medos e inseguranças. Acredito que quando as contamos repetidamente estes nossos “fantasmas” passam a ter um peso bastante menor na nossa vida, conseguindo cada um de nós seguir com uma vida mais saudável.
Depois deste momento, tivemos reunião de supervisão de cuidados. A reunião com o professor, teve como objectivo, analisar o caminho percorrido na elaboração dos portfólios. Sinto que apesar de tudo, estou a desenvolver um trabalho que vai de encontro aquilo que se pretende, alem disso estou a sentir prazer em fazê-lo e estou sem duvida a aprender coisas sobre saúde mental, que para mim eram completamente desconhecidas.